Olhar pensativo, conformismo e um toque de saudade. É mais ou menos assim que o brasileiro vê a Fórmula 1 atual. A maior parte dos ingredientes para a receita do tédio da velocidade não é exclusividade nossa. Grande parte do mundo, inclusive os alemães, já não vêem as vitórias intermináveis de Michael Schumacher da mesma forma que viam até alguns anos. Especialmente em 2004, a Fórmula 1 começou dando uma guinada, só que infelizmente para baixo.
Se o alemão é responsável por esse marasmo, para os brasileiros ele não é o principal desmotivador. Infelizmente, a saudade teima em bater à porta de todos nós, adoradores da velocidade no país do samba.
Começou a corrida. O típico brasileiro faz seus comentários. Parece querer se enganar, por incrível que pareça, ainda tem os que acreditam em Barrichello na Ferrari. Passadas as voltas, vitória do alemão. É o sinal de largada para cada um em frente à sua tevê começar o discurso em-outros-tempos-não-seria-assim. “Schumacher não correu com Mansell. Queria ver ele junto com o Prost ou o Piquet”. Os mais saudosos recorrem à tempos mais distantes: “Stewart daria um pau nesse alemão” ou “o Clark é infinitamente superior”. Mas, como é de lei, o velho problema vem à tona novamente. Um problema chamado Senna. “Piloto bom mesmo era Ayrton Senna, com ele não tinha carro ruim, não tinha adversário”, eufórico diz o torcedor em sua sala.
Essa cultura do Brasil, o país do automobilismo, não começou com Ayrton, logicamente. Veio muito antes, mas se intensificou de uma maneira incrível após a chegada do brasileiro que tinha tudo para bater os principais recordes do automobilismo.
Infelizmente não foi assim que aconteceu, e o resto da história todos sabem. Culpa da Williams, destino, erro? São perguntas retóricas, que não trarão o piloto de volta. Curioso foi, no entanto, notar o fenômeno que começou a se desenvolver após sua morte. Uma morte cujos brasileiros não souberam lidar, e não sabem até hoje.
Rubens Barrichello, infelizmente, foi quem assimilou grande parte dessa pressão dos brasileiros, que de certa forma, não eram culpados, afinal, quando Senna surgiu Nelson Piquet ainda estava no auge, portanto a transição entre um e outro foi suave, quase que programada. Com Barrichello, foi abrupta, foi estúpida, foi inesperada. E, de repente, lá estava o brasileiro, em uma equipe limitada, assumindo o posto de principal nome do país na maior categoria do automobilismo mundial.
Todas as manhãs, lembramos de nossas tarefas diárias: pagar as contas, ir ao trabalhos, ligar para alguém, agradar à sociedade, cumprir com nossas obrigações e relembrar que não temos mais o prazer de ver Ayrton Senna nas pistas, representando o país e pilotando como ninguém jamais fará. Isso sem dúvida é um problema.
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