Poucas carreiras na história do automobilismo têm a dimensão do sucesso alcançado por Helio Castroneves. Dinheiro, reconhecimento e vitórias, incluindo o bi nas 500 Milhas de Indianápolis, o que faz dele um ídolo reverenciado pelo público norte-americano. Pode faltar alguma coisa no currículo de um piloto que tenha conquistado tudo isso? A resposta, surpreendente, está no que ele disse no meu programa “Linha de Chegada” (SporTV). Com todas essas conquistas, Helinho diz que não será um piloto realizado enquanto não estiver correndo na F-1.
Como todos os que saem de seus países de origem para fazer carreira no automobilismo, o primeiro porto de Helinho no Exterior foi a Inglaterra. Lá, ele correu nas categorias de base até a F-3, quando foi convidado para fazer um teste na Indy Lights americana e se deu tão bem que recebeu uma proposta irrecusável para dar uma virada radical na carreira. Não há do que se arrepender. Nos Estados Unidos ele ganhou tudo e mais um pouco. Só não conseguiu apagar o sonho da F-1. Ao contrário, este sonho continua cada vez mais vivo. A ponto de ele ter incluído no seu último contrato com a Penske uma cláusula que lhe permite deixar esta, que é a maior equipe do automobilismo norte-americano, para correr na F-1 a qualquer momento que aparecer uma chance considerável.
Chance considerável, nas palavras do próprio Helinho, significa uma equipe de peso. Como Williams, McLaren, Ferrari, Renault ou mesmo a Toyota, onde ele fez um teste em 2002 e até hoje não sabe por que não está correndo lá. Ele diz que o resultado do teste foi excelente, e ele já contava em disputar o Mundial de 2003, quando a Toyota assinou com Olivier Panis e Cristiano da Matta. Aquela foi uma grande decepção, mas que só fez aumentar o seu desejo de alcançar a F-1. Foi quando Roger Penske, o dono da equipe, e seu amigo pessoal, entendeu que não deve evitar a transferência, mesmo que isso signifique uma perda para a IRL. Existe um compromisso de não apenas não evitar, como até mesmo de ajudar no que for possível. Roger é uma pessoa de bom relacionamento com Bernie Ecclestone, além de sócio da Ilmor, a empresa que prepara os motores Mercedes-Benz para a McLaren.
Mesmo conhecendo os objetivos de Helinho, confesso que eu não tinha idéia da proporção que isso tinha ganho nos planos de vida dele. Agora sei que o ideal virou uma obsessão. E este é um ótimo sinal. Um sujeito como ele, no auge da carreira, com enorme experiência, técnica diferenciada, talento e indiscutível estrela, pode representar uma boa mexida na F-1. Não existe no mundo atual do automobilismo, exceto Schumacher, um piloto mais vencedor do que Hélio Castroneves. Que, de sobra, ainda tem no currículo – e no anel comemorativo que ele traz no dedo – a imagem de um ganhador das 500 Milhas, algo pelo qual, provavelmente, Schumacher daria em troca um de seus seis títulos mundiais. Na hierarquia das conquistas possíveis no automobilismo, só um titulo mundial de F-1 tem mais importância do que uma vitória nas 500 Milhas. Helinho tem duas, e está de olho na terceira daqui a três semanas.
Mais depressa – Duas semanas atrás, a coluna “Grand Prix” pedia que as mudanças propostas para a F-1 em 2008 fossem adotadas o quanto antes, pela necessidade de uma reviravolta urgente sob risco de o Mundial perder a importância adquirida nas três últimas décadas. Para a alegria do fã do automobilismo, os donos de equipes tiveram a lucidez de não se opor à idéia de mudanças radicais e de entender que não há mais tempo a perder. Uma nova F-1 com a cara dos anos 70 e 80 deve entrar na pista já em 2006. Motores V8 (ou os atuais V10 com vida prolongada), fim do controle de tração, pneus slick, freios padronizados, treinos classificatórios às sextas, mais carros na pista e menos testes durante o ano são algumas das medidas que visam trazer de volta a competitividade. A volta do câmbio manual foi descartada, com o que eu concordo, porque câmbio semi-automático acionado por borboletas já é uma realidade até no dia a dia do nosso automóvel de rua. O importante é nivelar as disputas e dar condições de sobrevivência às equipes que, em pouco tempo, não teriam como se sustentar numa categoria que, só em motores, consome 3 bilhões de euros (9 bilhões de reais) por temporada.
Tarumã em forma – Tenho insistido nisso desde a primeira corrida do ano, mas é inevitável repetir que a Stock-Car anda mostrando a competitividade que o torcedor quer ver no automobilismo e que, pelo menos nesse início de temporada, não se viu disputas tão bonitas em nenhuma outra categoria no mundo. Faço uma exceção à Nascar americana, que corre em oval e é um espetáculo preparado para os carros andarem sempre juntos, mas não exige a técnica que se vê na Stock Car brasileira. Na etapa de Tarumã, o torcedor gaúcho provou sua paixão pelo automobilismo (32 mil pessoas). O autódromo, com novo asfalto, agora precisa ter novas áreas de escape e reformas na área de boxes, para se tornar mais seguro.
10 anos de Truck – No início de 1994, Aurélio Batista Félix saiu debaixo de um caminhão, com a roupa e as mãos sujas de graxa, para atender algumas pessoas que procuravam pelo caminhoneiro que estava preparando caminhões de corrida. Eram representantes da Firestone, interessadas em ajudar aquele homem que, além de pilotar, conseguia promover corridas pelo Brasil. Hoje a Bridgestone-Firestone está completando 10 anos como patrocinadora oficial da Fórmula-Truck, campeonato que atrai uma média de 45 mil pessoas em cada uma das nove etapas do campeonato, e acaba de renovar contrato até 2006.
Reginaldo Leme
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.