Coluna Grand Prix: Para inglês ver

Ainda bem que este fim de semana tem Stock Car ao vivo na TV e definição de pole-position das 500 Milhas de Indianápolis no noticiário. Assim, dá para esquecer mais uma vitória de Schumacher no GP mais previsível da temporada, que foi o de domingo passado em Barcelona. Claro que não vai aqui nenhuma torcida contra a Ferrari, que, no fundo, é a equipe do coração de todo mundo. Mas, pelo bem da F-1, as equipes rivais, e até os pilotos rivais, poderiam ser um pouco mais competentes.

Desta vez a facilidade de Schumacher virou brincadeira para a imprensa, como o jornal alemão “Bild”, que tripudia, pedindo para o hexacampeão ter piedade dos outros, ou o “Kurier”, de Belgrado, que sugere à FIA a cassação da licença de pilotagem do alemão. Tudo isso é reflexo das piadas que se ouve nos bastidores, como a idéia de se arrecadar dinheiro das equipes rivais para pagar a Schumacher metade do que ele ganha na Ferrari, desde que se comprometa a passar os próximos dez anos pescando com os amigos, bem longe das pistas. Inviável? Claro que sim, mas não mais do que imaginar que Jenson Button possa vir a ser o homem a derrotar o alemão nas pistas.

Sem desrespeito ao jovem Button, isso é história para inglês ver. Acreditar que o ótimo início de temporada do piloto da BAR pudesse representar uma ameaça à hegemonia da Ferrari só pode ter saído dos sonhos de um povo que inventou a F-1 e, apesar da falência de nomes tradicionais como Lotus, BRM, Surtees, March, Brabham e Tyrrell, ainda conta com a maioria das equipes, mas não tem um campeão desde Damon Hill, e não vê um inglês com conceito de grande piloto desde Nigel Mansell (Hill, mesmo sendo campeão, nunca foi unanimidade). Daí o inconformismo com a situação que, segundo o “The Times”, “está levando a F-1 a lugar nenhum” ou, pior ainda, segundo o “Daily Telegraph”, está matando a categoria.

Não é bom o que está acontecendo. Mas também “ainda” não é chegada a hora da BAR e de Button. Se os atuais modelos de McLaren e Williams não fossem tão ruins, e a Renault não tivesse arriscado tanto ao inovar no tipo de chassi e motor ao mesmo tempo, a história desse início de campeonato seria outra. A prova é que Schumacher não precisou fazer muito em qualquer uma das cinco primeiras corridas do ano para vencer com facilidade. Tudo bem que na Espanha teve aquele problema no escapamento, que foi uma preocupação só confessada pela equipe depois da corrida, mas, como se diria na linguagem do nosso futebol, a Ferrari jogou na base do feijão-com-arroz. E foi suficiente.

Por isso, não é de estranhar que a Williams já tenha jogado a toalha nesta altura do campeonato. Estranho seria ela tentar enganar os seus torcedores e os parceiros alemães da BMW dizendo que ainda dá para alcançar a Ferrari. Por culpa das rivais, os italianos usaram tão pouco que ainda estão com sobras. Aí é que entra a BAR. No seu devido papel de equipe surpresa, é quem mais está curtindo esse campeonato. Para Jenson Button, Takuma Sato, David Richards e o pessoal da Honda, a F-1 tem sido uma diversão e tanto. Daí para baixo, só se salva a Renault, que não manteve o ritmo de evolução do ano passado, mas é ainda a única, além da Ferrari, a ter os seus dois carros pontuando em todas as corridas. Graças a isso, alcançou 42 pontos (21 de cada piloto). A Williams, de quem se esperava briga pelo título, está nos 30 pontos, contra 82 da campeã.

Aí vem o frio – A temperatura começa a cair e a Stock Car prevê o início de sua temporada de inverno já para este fim de semana em Londrina. Mesmo não sendo um frio intenso, já vai influir na regulagem dos carros. Os motores devem render melhor do que nas provas de Curitiba, São Paulo e Porto Alegre, todas disputadas em dias quentes. O cuidado maior será quanto à calibragem dos pneus, que, na pista fria, demoram mais para atingir a temperatura ideal de aderência, o que obriga os engenheiros dos carros a aumentar a pressão. A corrida, que será transmitida ao vivo pela TV Globo (10h), não terá pit-stops porque os próprios pilotos acharam que isso vai tornar as disputas mais equilibradas a exemplo do que ocorreu em Tarumã. Após a corrida de domingo, haverá reunião de avaliação entre pilotos, organizadores e TV Globo para decidir se o reabastecimento será mantido nas corridas seguintes.

Cavalaria – A Fórmula Truck alcançou um nível de competitividade tão alto que, para tentar largar na pole-position domingo em Interlagos, Renato Martins vai disputar o treino oficial com seu caminhão Volkswagen equipado com um motor de classificação, como se fazia na F-1 até alguns anos atrás e hoje está proibido. Renato Martins, que é recordista em vitórias na categoria (23), está em terceiro no campeonato com 22 pontos. Após duas etapas, a liderança é de Beto Monteiro (Ford), com 48 pontos. Wellington Cirino (Mercedes) tem 42. A partir deste fim de semana, Débora Rodrigues não será mais a única mulher a suportar as brincadeiras dos pilotos no paddock da Truck. A pernambucana Danuza Moura, de 24 anos, estréia na categoria com um caminhão Iveco.

Parabéns, Interlagos – Na quarta-feira (12) o autódromo de Interlagos completou 64 anos. A lembrança é do leitor Homero Benevides, para quem Interlagos está para o automobilismo brasileiro assim como o Maracanã está para o futebol. Boas lembranças do antigo traçado de 7.960 metros, que foi por onde a F-1 chegou ao Brasil.

Reginaldo Leme

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.