Coluna Indy: As 500 Milhas de Indianápolis mais longas da história

As 500 Milhas de Indianápolis mais longas da história.

Esse é o título da mais nova Coluna Indy, saindo do forno, começando á ser escrita lá pelas 20h30 da noite de domingo, 30 de Maio de 2004.

Se os registros dizem que a edição de 1911 durou cerca de 6 ou 7 horas de duração, e foi a mais longa, a edição de 2004 bateu esse recorde.

Claro que não com o tempo de pista, lógico, mas se considerar as atividades oficiais de pista de um único dia, o que estava programado para começar em torno de 13h00 pelo horário de Brasília só foi terminar ás 20h20 da noite. Foram 7 horas e 20 minutos de 500 Milhas de Indianápolis.

O que atrapalhou tudo foi a chuva, com certeza. Essa foi uma opinião unânime. A 88ª edição das 500 Milhas teriam sido bem melhores sem esse fenômeno natural. Adiamentos, interrupções e constantes ameaças de chuva deram um sabor estranho para essa corrida. O próprio resultado da corrida foi decidido pela instabilidade do clima na região do Estado de Indiana.

No Qualify houve um domínio do motor Honda. A razão para isso? Simples, a gigante japonesa é especialista em fabricar rapidamente um motor de concepção nova muito potente para a Indy. No início de 2003, estréia da Honda na IRL com motores de 3.500cc³, houveram os melhores resultados da Honda no ano, primeira fila em Homestead, pole e vitória em Phoenix, tudo nas mãos de Kanaan.

Agora em Maio de 2004 estrearam os motores de 3.000cc³, já determinados pela IRL desde o final do ano passado. A Honda trabalhou bem neste motor, e mesmo com a versão de 3.500cc³ que iria “sair de linha” nas 300 Milhas do Japão, já estavam rendendo forte. Das 3 primeiras corridas do ano, 2 delas foram vencidas pela Honda.

Então a Honda estreou seu novo motor de 3.000cc³ com mais potência e aceleração do que a Toyota e Chevrolet. A facilidade com que pilotos de qualidade duvidosa (ou pouca experiência) se classificaram em boas posições para a Indy 500 só pode ser explicada pela força de um Honda os empurrando. Que o diga os duvidosos Matsuura e Yasukawa, e o pouco experiente Meira. Até a Newman-Haas, estreante com carros da IRL, se classificou muito bem com o competenter “Qualifier” Junqueira.

Mas Buddy Rice ou tinha o motor Honda mais potente de todos, ou a (agora) Rahal-Letterman acertou em cheio a receita de acerto para esta pista. A média de velocidade nas 10 milhas do Pole Day de Rice foi bem superior á média de Wheldon (2º) e Franchitti (3º).

A largada, mesmo com mais de 1h15 de atraso, foi segura, sem incidentes, com vários pilotos demonstrando maturidade e evitando abusos desnecessários nas primeiras passagens. Muitos deles certamente tinham alguma consciência dos perigos da largada e da primeira volta. O problema maior ainda estaria por vir: A famosa chuva.

Buddy Rice e Dan Wheldon já estavam nas boas posições logo nas primeiras voltas, Castroneves e Hornish progrediam, e já ameaçavam manter a escrita da equipe Penske, vencedora das 5 últimas vezes que seus carros se classificaram para a prova. Kanaan se mantinha no pelotão da frente, e outro Andretti-Green, de Bryan Herta, surpreendia.

E veio a chuva. Lá pela volta nº 28. Interrupção, e mais suspense: Quem iria beber o leite e comemorar com a coroa de flores? Isso iria acontecer ainda hoje?

De fato é muito chato quando isso ocorre, ainda mais neste ano em que o nível da IndyCar está bastante alto em termos de pilotos, equipes e fornecedores, e também pelo fato dessa corrida marcar o resgate de transmissões ao vivo (e com qualidade) de eventos de categorias de estilo Indy (CART e IRL). Sinceramente, desde 2001 uma TV aberta brasileira não cobria uma corrida de Indy com qualidade e seriedade. Quem sabe seja o início do renascimento da Indy no Brasil.

Cerca de 5 horas da tarde de hoje, e pelo menos eu apostava que a corrida não iria mais ocorrer hoje, seria transferida para amanhã (coincidentemente, dia do meu aniversário). Mas a pista secava, e as equipes já esboçavam tirar os carros das garagens. Dava para sentir que haveria uma re-largada. Mas ocorreriam todas as voltas hoje (as 172 restantes) ou só dariam mais 73 voltas para encerrar a prova com seu percurso mínimo?

Quando chegavam as notícias de tempo (aparentemente) bom em Indianápolis, a certeza era grande do reinício. Wheldon era o líder antes da interrupção, com Rice atrás. As Penskes e Kanaan estavam bem posicionados.

Relargada também bastante segura, sem confusões, demonstrando o alto nível da categoria. Apesar dos incidentes com os carros da equipe Foyt Enterprises (os parentes do dono do time: o neto A.J.Foyt IV e o filho Larry Foyt), a troca de posições ocorria de maneira muito saudável. As estratégias seriam postas em jogo.

Dos acidentes deste evento, os mais assustadores (pelo menos nas imagens iniciais que apareceram) foram os que envolveram Ed Carpenter e Mark Taylor na curva 3 e o acidente impressionante (e por pouco sem conseqüências graves) de Greg Ray, Darren Manning e Sam Hornish Jr, na saída da curva 4.

Do acidente de Carpenter e Taylor, a conclusão inicial que se pode chegar é que o inglês da Menards, embora por fora de Carpenter, fechou o americano, descendo da trajetória externa para a parte interna da pista, e assim colidindo com o carro da equipe Red Bull Cheever. Taylor sentia alguma contusão nas pernas quando desceu do carro. Possivelmente as notícias nas próximas horas irão informar mais sobre seu estado físico.

Já o acidente mais sério, o de Ray, Manning e Hornish, por pouco não virou uma tragédia. Para quem conhece bem a história das 500 Milhas de Indianápolis sabe que no fim dos anos 80 o americano Kevin Cogan rodou na saída da curva 4 e bateu seu carro na “quina” do muro de entrada dos boxes, exatamente quando ele começa. O carro se dobrou em dois, e Cogan só sobreviveu sem ferimentos graves por puro milagre. Hoje, caso o carro de Darren Manning estivesse uns 2 ou 3 metros mais á direita, bateria no mesmo ângulo de Cogan, e ter a mesma sorte do americano, igualmente seria difícil.

Não deu para avaliar um culpado, mas deu para perceber quem pode não ter sido o culpado: Sam Hornish Jr, envolvido no acidente aparentemente porquê teve a infelicidade de estar passando naquele lugar, naquele momento, quando Ray e Manning se tocaram. Os três carros foram parar dentro do pit-lane, e igualmente houve alguma sorte em não ter acontecido um acidente pior.

Sam Hornish Jr, pelo 3º GP seguido sofre um acidente e não completa a prova. Será que dentro da Penske há quem continue crendo que ele é o melhor piloto da IRL no momento? Dúvidas serão lançadas sobre ele, que pela 4ª vez seguida falhou em tentar vencer a Indy 500 com um carro competitivo, e sendo uma das estrelas da categoria.

As chances de Buddy Rice pareceram que tinham “morrido” após um pit-stop atrapalhado da equipe Rahal lá pelo meio da corrida. Foi uma surpresa quando ele apareceu em 3º lugar logo atrás de Dan Wheldon e Tony Kanaan, que lideravam e estavam disputando domesticamente a vitória dentro da equipe Andretti-Green.

Wheldon estava andando mais forte, mas sua pouca experiência pesava, Kanaan em uma re-largada mostrou para o inglês algumas lições com sua experiência vasta. E Rice se recuperava, discretamente, e de maneira brilhante.

Uma hora Wheldon tentou uma ultrapassagem sobre Tony Kanaan na curva 1, o baiano fechou a porta e o inglês teve que recuar. Rice veio feito um foguete e deixou Wheldon para trás antes que a curva 2 chegasse. Kanaan já tinha uma ameaça no retrovisor, o carro nº15 da equipe Rahal-Letterman.

Uma hora não deu para resistir, a ultrapassagem era inevitável, Rice tinha muito mais ação e seu carro rendia melhor. E a sorte o ajudou? Talvez sim, mas foi inquestionável a liderança aparentemente inabalável que Rice conduziu após a ultrapassagem sobre Kanaan. Foram muitas voltas, e a corrida já estava chegando com 170 voltas completadas, Rice estava bem na frente.

Caiu a garoa, veio a bandeira amarela, mas ainda a esperança de uma disputa final nas últimas 25 voltas. Mas não, a intensidade da chuva piorou, e Rice acabou sendo premiado com uma brilhante vitória, de uma maneira que carimbou definitivamente seu passaporte para o estrelato do automobilismo mundial.

Um rapaz jovem, que foi campeão de Fórmula Atlantic há cerca de 5 anos atrás, fez uma temporada super discreta no Team Red Bull Cheever em 2003 (prejudicado pela potência fraca dos motores Chevrolet), e que só conseguiu um cockpit para correr em 2004 por conseqüencia do acidente espetacular e aterrorizador de Kenny Brack no final de 2003.

Piloto-tampão da equipe Rahal antes do início da temporada, estava esperando a recuperação total de Brack para retornar ao posto de piloto-desempregado. Mas quis o destino (e a competência) que Rice mostrasse seu potencial. Pole-position nas 300 Milhas de Miami, primeira corrida de 2004. Pole-position nas 500 Milhas de Indianápolis, uma recuperação fantástica durante a corrida, e duas ultrapassagens que o garantiram Buddy Rice como novo astro a IRL. Agora, mais do que isso tudo: Vencedor da 88ª edição das 500 Milhas de Indianápolis. Sem dúvida, Bobby Rahal e David Letterman o garantiram até o final do ano, e Rice caiu nas graças dos patrões, e da própria categoria.

Foi o retorno de Bobby Rahal como vencedor da Indy 500, ele que havia vencido a edição de 1986 com um March-Cosworth da Budweiser Truesports. Curiosamente uma edição adiada em 6 dias por conta da… chuva.

Foi a quebra da “Tradição Penske” de vencer Indianápolis nas vezes que se classifica. Castroneves perdeu a chance do tricampeonato com um problema de câmbio (ou embreagem) em seu último pit-stop, e o fez perder tempo na parada para reabastecimento. Já Sam Hornish Jr precisa se benzer, pois agora não será mais o único piloto norte-americano considerado “queridinho” pela categoria. Buddy Rice roubou seu posto, trazendo o Borg-Warner de volta aos EUA depois de 6 anos. O último americano vencedor da Indy 500 foi Eddie Cheever em 1998. De lá para cá houveram 3 vitórias brasileiras (Castroneves em 2001 e 2002, Gil de Ferran em 2003), 1 vitória colombiana (Montoya em 2000) e 1 vitória sueca (Brack em 1999).

Tony Kanaan, ameaçou vencer, esteve muitíssimo perto disso. Não foi dessa vez, mas Kanaan mostrou que é piloto de ponta, e de primeiríssima qualidade. Estratégico, consistente e determinado, realmente uma pena que o carro #15 da Rahal-Letterman tinha mais ação do que seu #11 Andretti-Green. Quem sabe em 2005 não chega a vez do baiano, que foi 3º colocado em 2003 e agora 2º colocado em 2004. Houve uma melhora de resultado.

E a Honda no fim das contas confirmou o favoritismo total: Rice, Kanaan e Wheldon (3º colocado) estavam equipados de Honda. E os motores não apresentaram problemas.

Se seguir assim, as próximas corridas do calendário da IRL (principalmente as disputadas em pistas velozes) serão provas particulares entre pilotos e carros empurrados pelos propulsores japoneses da Honda. Kanaan, Wheldon, Rice outros poderão manter o ritmo de Indianápolis novamente.

Fico devendo a classificação do campeonato, que não deu tempo nem sequer de procurar no site, mas Wheldon e Kanaan continuam na ponta da tabela, em uma saudável disputa particular entre dois amigos e bons companheiros de equipe, altamente competitivos. Uma disputa interna que dá gosto de acompanhar.

Um forte abraço para todos os leitores que tiveram a paciência de ler um texto escrito em 45 minutos. Já são 21h15 da noite de domingo e aqui está um resumo da história de uma edição da mitológica 500 Milhas de Indianápolis, a maior corrida do mundo, até mesmo no tempo de duração.

Não deixem de conhecer o espaço de Campeonatos Históricos de GP2 no F1Mania.net: /gp2