Bruno Senna embarcou nesta terça-feira para a China levando na bagagem a certeza que a novíssima Fórmula E, o campeonato mundial de carros elétricos criado pela Federação Internacional de Automobilismo, tem tudo para dar certo. “Até seis meses atrás ainda havia alguma incerteza quanto à categoria, mas depois de todo esse tempo de trabalho, testes e simulações do evento não tenho dúvida de que ela será um sucesso”, afirmou o piloto, um dos três brasileiros na série ao lado de Nelsinho Piquet e Lucas di Grassi.
Por todos os motivos, a Fórmula E deverá se constituir em uma revolução nas pistas – todas as 10 etapas serão em traçados urbanos, a começar pela de sábado em Pequim. Os carros – 20 pilotos de 10 equipes – serão impulsionados por baterias e não por motores movidos por combustíveis convencionais e poluentes como a gasolina e o etanol. Como elas não têm autonomia para uma corrida inteira, uma parada obrigatória para a troca do carro faz parte do regulamento. Os pneus de uso misto – pistas seca e molhada – também são outra novidade. “Teremos apenas um jogo e mais dois pneus por evento. A gestão deles será muito importante, porque depois que atingem a temperatura ideal os tempos começam a cair na base de quatro décimos depois de duas voltas”, explicou Bruno. A ausência do barulho do motor é outra característica marcante da Fórmula E.
Bruno correrá pela Mahindra Racing, organização indiana que delegou a operação de pista à Carlin, uma das mais conhecidas equipes do automobilismo inglês. O indiano Karun Chandhok, com quem dividiu os boxes na Fórmula 1 em 2010 pela HRT, voltará a ser seu parceiro. Depois de uma pré-temporada relativamente longa em Donington Park, transformado em quartel-general da Fórmula E, Bruno diz estar pronto para a primeira batalha. “Estamos tão bem preparados quanto foi possível. Uma estreia, principalmente em uma categoria totalmente nova, traz sempre uma série de incógnitas e variáveis que teremos de enfrentar na hora. Por exemplo, não sabemos como esses carros se comportarão com temperaturas muito mais elevadas como as que deveremos encontrar em Pequim. O superaquecimento é uma preocupação, porque em Donington treinamos com o clima bem mais ameno”, lembrou.
Toda a programação da Fórmula E será cumprida em um único dia para reduzir ao máximo os transtornos às cidades. Serão dois ensaios livres – um de 45 e outro de 30 minutos -, uma sessão classificatória de 50 minutos, dividida em quatro grupos de cinco carros e 10 minutos para cada, e mais a corrida com aproximadamente uma hora. A potência máxima estimada ao equivalente de 270 cavalos só estará completamente disponível no treino de formação do grid e por cinco segundos na prova durante a utilização do fan boost, cujos três pilotos vencedores da promoção realizada pelos organizadores pelo site da categoria serão conhecidos após a definição do grid. Como os treinos particulares são proibidos, Bruno – que só nos últimos dias começou a conhecer o circuito chinês por meio de simulador – está convicto de que o pré-corrida será fundamental. “O simulador nunca é suficiente, porque as condições da pista jamais são as mesmas e, neste caso, faltavam até algumas zebras. A verdade é que teremos de chegar às pistas com o máximo de informações, porque o tempo para acertar o carro será curto. E quem tiver uma quebra grande ou sofrer uma batida forte estará com o dia comprometido”, lembrou.
O modelo Spark-Renault SRT 01-E, construído pela Spark Racing Technology junto com um consórcio de empresas líderes do setor como a fabricante italiana de chassis Dallara, carregará as baterias com capacidade de 200 kw fabricadas pela Williams Advanced Engineering e pneus Michelin. O câmbio de cinco marchas sequenciais de Hewland tem relações fixas como medida para baratear os custos.
Bruno, que permanece contando com o apoio da Gillette, disse que os testes forneceram grande número de informações às equipes, mas que o carro ainda está no estágio inicial de desenvolvimento. “Aprendemos muita coisa nos treinos. Agora temos de trabalhar na evolução do carro, para que ele se torne cada vez mais rápido e confiável”, afirmou. A Fórmula E aplicará o mesmo sistema de pontuação da Fórmula 1, acrescentando três pontos para o pole e dois para o autor da volta mais rápida. No Brasil, as corridas serão transmitidas pelo canal a cabo Fox Sports, que oferecerá aos espectadores a oportunidade de rever diversos outros ex-Fórmula 1, como Jaime Alguersuari, Jarno Trulli, Jérome D’Ambrosio, Nick Heidfeld, Sébastien Buemi, as pilotos Michela Cerruti e Katherine Legge, além de Nicolas Prost, filho de Alain Prost. A prova inaugural da temporada – que será encerrada em junho em Londres – começará às 5 horas deste sábado pelo horário de Brasília.