A nova classe de GT elétricos pode causar algum impacto à Fórmula E?

Pioneira no que diz respeito a competições de automobilismo com carros totalmente elétricos, a Fórmula E surgiu no horizonte do esporte a motor como o futuro, a evolução. E tem desempenhado muito bem este papel nos últimos anos, sendo que atualmente está em sua 7ª temporada e com sua segunda geração de monopostos elétricos, e já desenvolvendo a terceira geração.

A Fórmula E está consolidada como o principal laboratório para as montadoras que querem investir no desenvolvimento da tecnologia elétrica automotiva. As principais fabricantes do planeta estão em seu grid, algumas já fecharam novos acordos visando a tão esperada “Era Gen3”, enquanto outras competições surgiram com o mesmo lema da sustentabilidade, como a Extreme E (fundada por Alejandro Agag, o mesmo fundador da Fórmula E), porém com propósitos ou veículos bem diferentes da FE e que não rivalizam em nenhum aspecto com o mundial.

Mas, nem tudo são flores: a crise no mercado automotivo (e não só nesse mercado) devido a pandemia de COVID-19 ligou o alerta. Montadoras tiveram que rever seus custos, e isso causou um impacto no que diz respeito as suas presenças em competições. A própria Fórmula E também sofreu impactos diretos, com cancelamentos constantes de eprix, readequação de calendário, paralisação por mais de 150 dias, corridas sem a presença do público…

Com uma nova geração de monopostos a caminho, a Fórmula E e os fabricantes passaram a dialogar cada vez mais sobre o futuro da categoria e consequentemente, os custos no que refere ao Gen3, além do que pode ou não ser desenvolvido dentro do Mundial de Carros Elétricos. As baterias por exemplo, são padronizadas, com todos os carros correndo com a mesma bateria, que no Gen2 atual é fabricado pela McLaren e na Era Gen3 voltará a ser desenvolvida pela Williams.

A categoria está cedendo em alguns aspectos, como a implementação de um teto orçamentário, mas não abre a mão de manter a padronização de alguns componentes, o que fez com que pelo menos duas montadoras anunciassem a sua retirada do Mundial após o término da 7ª temporada: Audi e BMW. Enquanto a primeira montadora está focada nos Hipercarros do WEC e no Mundial de Rali (que inclusive, contará com carros elétricos onde o desenvolvimento de todos os componentes do carro serão permitidos, incluindo a bateria), a segunda não deu pistas sobre seus próximos passos, mas deixou claro os motivos de sua saída está ligado a não ver mais a Fórmula E como prioridade no que diz respeito ao desenvolvimento da tecnologia elétrica.

Eis que meses após este anuncio por parte de BMW e Audi, a FIA anuncia um regulamento técnico para uma classe de GT totalmente elétrica, onde as montadoras poderão desenvolver todos os componentes. Como essa classe de competição possui os carros mais próximos dos veículos de produção (aqueles que chegam as concessionárias), a expectativa é que em breve uma competição nova seja anunciada e que muitas montadoras passem a observar a evolução dessa classe e no futuro, possam migrar para a nova competição.

Primeiro piloto a ingressar na Fórmula E, o brasileiro Lucas di Grassi comentou sobre a nova classe de GT totalmente elétrica, e afirmou que além de ser um passo natural para o automobilismo mundial (migrar para um tipo de combustível sustentável), não crê que isso possa ameaçar a Fórmula E no que diz respeito ao desenvolvimento da tecnologia elétrica:

“Do momento que a FIA anunciou uma categoria nova, até ela amadurecer vai levar alguns anos”, relatou Di Grassi ao F1 Mania. “O automobilismo inteiro provavelmente será elétrico, então é preciso se acostumar que daqui para frente terá mais e mais categorias elétricas no automobilismo mundial. E daqui dez ou quinze anos será proibido em alguns países categorias não-elétricas.”

“É claro que isso é discutível, até porque eu acredito que é possível ter uma combinação de opções renováveis com biocombustível, entre outras formas de energia limpa, e que poderão ser usados ao invés da tecnologia elétrica. Mas ainda assim, todas levarão um tempo para ficarem maduras.”

“No fim, da mesma forma que uma classe GT não compete com a F1, a GT elétrica não será ameaça para a Fórmula E. Fórmula E tem sua história e continuará sendo o ápice da tecnologia elétrica nos próximos anos”, finalizou o piloto da Audi.

De fato, a Fórmula E já está consolidada, e apesar dos desafios que surgiram nos últimos tempos, tem conseguido se manter, sobreviver, e evoluir. O Gen3 está prestes a vir, boa parte das montadoras já firmaram sua permanência na série elétrica, e existe até o interesse de outras fabricantes que querem fazer parte da categoria do futuro, como a McLaren e a Alfa Romeo.

Como afirmou Di Grassi, todas as demais categorias precisam chegar onde a Fórmula E chegou: ser a referência neste campo tecnológico. Por enquanto, não há ameaças a Fórmula E neste sentido. Mas o que presenciamos até agora foram apenas os primeiros capítulos de uma história que ainda promete muitas páginas e reviravoltas…