Com passagens pela Fórmula 1, WEC e agora F-E, um dos brasileiros mais vitoriosos na Europa conta sobre seus objetivos na carreira.
Com a ausência de Felipe Massa na Fórmula 1 e a dificuldade de Felipe Nasr em conseguir permanecer na categoria, vemos grandes pilotos brasileiros em outras vertentes do automobilismo provando que dá sim para ser bem sucedido e feliz fora da categoria máxima do esporte. Um desses pilotos é Lucas di Grassi.
O piloto paulistano de 32 anos hoje vive na Europa, precisamente em Mônaco e disputa o campeonato da Fórmula E. Porém, Lucas, tem um longo currículo, com passagens pela Fórmula 1 e recentemente pelo Mundial de Endurance (WEC), no qual fez parte do vitorioso time da Audi, equipe que fora muitas vezes vencedora das 24 Horas de Le Mans, principal prova de Endurance do mundo.
Com a recém saída da Audi da WEC, o brasileiro agora está 100% focado na Fórmula E (categoria de carros elétricos) e também defende o time alemão. Lucas di Grassi falou exclusivamente ao F1Mania.net e revelou alguns detalhes da sua carreira.
Um dos pilotos mais vitoriosos e bem sucedidos em que o Brasil formou nos últimos anos, Di Grassi prefere manter a modéstia, mesmo com uma passagem discreta pela Fórmula 1 (pela Virgin Racing em 2010), ele afirma que mudar de foco facilitou sua evolução na carreira.
“Ser bem sucedido ou não é um pouco subjetivo. Tenho que fazer sempre o melhor dentro deste esporte que escolhi. O desempenho depende muito do equipamento em conjunção com o piloto. Quando uma parte não é competitiva, não há bons resultados. Uma das coisas mais difíceis é quando não se tem um carro bom, como aconteceu comigo na F1. Então é difícil manter a motivação e fazer um trabalho bem feito. Quando decidi mudar de rumo eu sabia que teria um bom equipamento e pude mostrar isso no WEC e na Fórmula E, e isso mostrou o tamanho da evolução da minha carreira depois da F1”, conta.
O brasileiro diz que não tem nenhum arrependimento na carreira e que venceu em quase todas as categorias em que participou.
“Tirando a Fórmula 1, eu venci corridas em todas as categorias pelas quais passei. Na F1 eu fiquei um ano com um carro que não era nada competitivo. Acho que isso foi a única coisa que faltou. Mas não fico carregando isso, porque a vida é assim: a gente se adapta e nem sempre as coisas saem como o planejado”, disse.
Questionado se ele ainda pretende retornar para a F1, Di Grassi rechaça a possibilidade e afirma que a Fórmula 1 pra ele é passado e vê a Fórmula E como principal categoria no futuro.
“Completamente passado. Chance zero de voltar, ainda mais nestas atuais condições de ter de levar muitos patrocínios para ter um respaldo mínimo e, ainda assim, andar nas equipes de trás do grid. Claro que as grandes não precisam disso, mas não tenho nenhuma necessidade, neste estágio da minha carreira, em trocar a excelente posição que tenho dentro da Audi Sport por algo completamente incerto e inseguro dentro da Fórmula 1. Incerto, inseguro e sem futuro, porque a F1 só tende a decair nos próximos anos, enquanto a Fórmula E vem crescendo bastante”, explicou.
Ainda falando sobre a Fórmula 1, Lucas comentou as causas da decadência do esporte e os motivos pelos quais os brasileiros não conseguem ingressar na categoria quando entram, não conseguem se firmar, levando em consideração que o Brasil pode ficar sem representante em 2017, algo que não acontece desde 1969.
“Se o fato de o Brasil não ter um piloto na F1 em 2017 se confirmar, isso será reflexo de duas coisas: o momento econômico que o país vive, em que a economia não evolui; e o direcionamento dos investimentos. O país não melhorando sua economia dificulta ainda mais termos pilotos em categorias de base e conseguir apoio nas séries intermediárias até chegar na Fórmula 1, porque não teríamos investimento no esporte a motor. O outro ponto é que talvez tenhamos tido um pouco – até muita, eu diria – sorte de termos tido tantos bons pilotos na F1 em sequência. Em ordem inversamente proporcional, pelo que o Brasil investe no automobilismo ele tornou-se um país muito importante para a F1, e acho que foi um fator de sorte, por exemplo, termos dois pilotos tão bons por tanto tempo, como o Barrichello e o Massa.”
“As chances de não haver nenhum (piloto) ano que vem são altas. No meu ver, se isso acontecer, não vai mudar muita coisa, porque ter um brasileiro andando atrás e não ter, não soma nada à sua visibilidade (ou das empresas que o apoiam). Sou a favor de um automobilismo que faça sentido. Se eu tivesse capital para investir, era melhor colocar este dinheiro em uma categoria formadora de pilotos do que em um competidor que só teria orçamento para andar atrás na F1”, explicou.
Lucas comentou sobre qual será o destino de Felipe Massa após sair da Fórmula 1 e indicou qual seria a melhor escolha para o conterrâneo.
“A DTM é um campeonato alemão, que tem muito menos peso que a Fórmula E ou a WEC. A WEC, em 2017, só terá quatro carros na classe principal (LMP1), então não faria sentido. Acho que para o Felipe que seria muito melhor entrar na Fórmula E, que é um campeonato global, já tem seu peso e sua importância, e está em uma evolução enorme ano após ano”, aconselhou.
Com a saída da Audi da WEC, o brasileiro contou sobre sua experiência na categoria e que só disputaria as 24 Horas de Le Mans novamente, se fosse pela principal classe (LMP1).
“Entrei para a Audi no final de 2012 e fui contratado no começo do ano seguinte. Como piloto oficial, disputando a temporada completa do FIA WEC, entrei em 2014 no lugar do Allan McNish, no carro número 1, campeão mundial do ano anterior. Isso significou bastante para mim. Eu sou imensamente grato à Audi por isso, pelas vitórias que conquistei e pela mudança que eles proporcionaram à minha carreira”
“Só tenho interesse em disputar novamente as 24 Horas de Le Mans se for na classe LMP1, que é a principal do WEC, a mais rápida. Nas outras, não tenho interesse. E só há vagas disponíveis caso a Toyota e a Porsche inscrevam o terceiro carro. Se isso acontecer, as chances de conseguir uma vaga aumentam bastante”, explicou.
Para finalizar, o paulistano falou sobre sua atual e preferida categoria e diz que espera que consiga ser campeão em breve, pois é o seu maior objetivo hoje.
“Esta temporada deve ser uma das mais difíceis, porque todo mundo evoluiu. Ano passado o nosso carro era claramente o segundo melhor do grid. Agora, com quatro carros Renault e as grandes evoluções por parte da DS Virgin e da Mahindra, a gente agora está no bolo. Ter o mesmo desempenho vai ser bem mais difícil, mas continuamos lutando. Estou na vice-liderança do campeonato após duas corridas, então a ideia é somar o máximo possível de pontos e vencer todas as corridas que eu conseguir. No entanto, vai ser bem mais difícil, embora o objetivo final continue o mesmo. Ainda mais agora com o foco 100% na Fórmula E e no projeto de longo prazo que a Audi tem para a categoria”.
“Vários motivos levaram a Audi a deixar o WEC e agora a marca vai investir tempo e recursos na Fórmula E. Isso vai melhorar muito a equipe e a nossa competição de competitividade. O nosso orçamento era bem menor que o da Renault, e ainda assim lutamos pelo título. Agora com a entrada da Audi, sua tecnologia e capacidade, essa condição vai melhorar bastante nos próximos anos”.
“A Fórmula E tem um mapa de evolução. Estamos na terceira temporada da história da categoria. O próximo passo é conseguir uma bateria que dure a prova inteira sem o piloto precisar trocar de carro. E isso deve acontecer na quinta temporada da Fórmula E”, contou.
Perguntado sobre qual seria seu principal sonho, Di Grassi resumiu: “meu sonho é continuar vencendo corridas, campeonatos e subir com a bandeira do Brasil no alto do pódio onde quer que eu esteja correndo. No momento, meu sonho é ser campeão da Fórmula E”, finalizou.
Lucas di Grassi retorna para o cockpit no próximo dia 18 de fevereiro para a terceira etapa da temporada 2016/2017 da F-E com o ePrix de Buenos Aires, na Argentina.