A Fórmula E está prestes a dar um novo passo em sua evolução no automobilismo mundial, e é claro que a cada novo passo, os desafios para se manter como uma categoria relevante sem inflacionar os custos e ainda assim ser vista como um importante investimento para as montadoras desenvolverem suas tecnologias, é algo bem complexo.
Por isso, a Fórmula E terá que adotar algumas medidas, como um possível teto orçamentário (que já está em discussão há tempos) e a sua versão do Pacto de Concórdia.
Não sabe do que se trata o Pacto de Concórdia? Vamos a explicação logo abaixo:
Antes de se tornar o que é atualmente, a F1 não tinha regras muito claras no que diz respeito aos direitos comerciais dos campeonatos, entre outras questões. A FIA era apenas responsável pelo regulamento técnico e esportivo. Foi quando Bernie Ecclestone e Max Mosley criaram a FOCA (uma associação dos construtores) e resolveu disputar com a FIA a organização do campeonato.
É claro que isso não foi visto com bons olhos a principio, o que resultou em grandes divergências de ambos os lados, ameaçando até mesmo a existência da F1. Mas no início de 1981, finalmente todas as partes se reuniram e chegaram a um acordo, o qual foi intitulado de Pacto de Concórdia por ter sido assinado após mais de 13 horas de reunião na sede da FIA, que fica na Praça de Concórdia em Paris.
A partir daí, a F1 passou a ter a configuração atual, onde as equipes assinam periodicamente uma renovação do Pacto de Concórdia para se manter no mundial, levando em conta as suas necessidades atuais em todos os aspectos, principalmente o financeiro. Enquanto a FIA segue como regulamentadora de todos os aspectos técnicos da competição, através do pacto as outras partes interessadas se preocupam com a comercialização do campeonato e também conseguem ter uma estabilidade do regulamento por um tempo pré determinado.
Explicado o que foi o Pacto de Concórdia, a Fórmula E vive um momento com algumas semelhanças à F1 ao final dos anos 70, que foi quando toda a discussão sobre a comercialização da competição começou. Com uma nova geração de monopostos a caminho, a categoria precisa evitar uma corrida tecnológica que possa elevar os gastos e comprometer a permanência das montadoras em sua competição, e ao mesmo tempo, se manter atrativa e gerar lucros.
Se por um lado as saídas anunciadas de Audi e BMW causaram um impacto negativo ao final do ano passado, a Fórmula E já assegurou a permanência de algumas fabricantes para a Era Gen3, e ainda conta com novas interessadas, como a McLaren que já assinou uma carta de interesse em ingressar no Mundial de carros elétricos. Mas para isso se formalizar, a McLaren aguarda a implementação de um teto orçamentário e regras mais claras no que diz respeito a comercialização da categoria.
Tudo leva a crer que a Fórmula E terá a sua versão do Pacto de Concórdia. CEO da categoria, Jamie Reigle declarou em uma entrevista recente ao Motorsport.com que a categoria já está trabalhando nisso, e que este é o caminho a seguir.
“Estamos trabalhando neste enquadramento comercial. Em termos simples, diz respeito aos limites dos direitos que há entre o promotor e as equipas. A maioria dos campeonatos profissionais têm regras muito claras entre os vários participantes. Na Premier League [de futebol] isso é muito claro. É nisso que temos trabalhado.”
“Os objetivos do promotor e das equipas estão alinhados em guiar o produto mediático, uma vez que todos nos beneficiamos com o crescimento das audiências e maior exposição para os nossos patrocinadores. Honestamente, me sinto bem com o caminho que estamos seguindo”, completou Reigle.
Com um acordo entre todos os envolvidos no que diz respeito as questões comerciais da Fórmula E, a tendencia é que mais algumas montadoras confirmem sua permanência na competição (como a Mercedes, que já se manifestou em ocasiões recentes que está aguardando justamente a formalização dessas regras).
“Enquanto as discussões relativas a tópicos chaves como a implementação do teto orçamentário têm sido muito positivas, ainda há detalhes importantes sobre a estrutura do campeonato que precisam ficar um pouco mais claros. Por esse motivo, tomamos a decisão de atrasar nosso registro para permitir que esses pontos sejam finalizados”, declarou oficialmente a Mercedes em um comunicado emitido após se encerrar o primeiro prazo para inscrição na Era Gen3 ao final de março.
Apesar disso, a expectativa tanto da equipe alemã quanto da categoria é que um acordo seja firmado e anunciado pelos próximos dias.
No que diz respeito ao regulamento técnico, praticamente todas as montadoras já estão de acordo, com a exceção óbvia de Audi e BMW que estão em sue último ano na categoria.
Depois de um período tenso, tudo começa a entrar novamente nos eixos na Fórmula E. Todos no aguardo das novidades que serão anunciadas em breve para a Era Gen3.