Império Endurance Brasil: um caso de paixão e negócios na pista

Dois dos quatro patrocinadores da categoria são concessionários de veículos top e fazem do campeonato uma plataforma de divulgação dos seus empreendimentos; Pirelli também fornece pneus e presta suporte técnico a algumas equipes

Na cena do automobilismo brasileiro chama atenção a velocidade com que a Império Endurance Brasil vem se firmando como categoria nacional. Tudo começou com a criação da Associação de Pilotos de Endurance (APE), por pilotos que andavam no Endurance do Rio Grande do Sul, para estabelecer uma categoria de endurance nacional e profissional, que começou em 2015. Em 2020, a competição estreia na SporTV, com as corridas, que na mnaioria duram quatro horas,exibidas na íntegra, ao vivo. Na pista, a Endurance Brasil ostenta cobiçados modelos de gran turismo, como Porsche, Mercedes, McLaren, Aston Martin, Ferrari e Ginetta, e protótipos arrojados, como AJR, Sigma e MRX, em um grid com cerca de 40 carros. Sinais de vigor.

Henrique Assunção - Endurance Brasil
Foto: Bruno Terena

Por trás do sucesso da Endurance Brasil há uma base formada pela paixão de seus frequentadores, em grande parte empresários que correm por hobby, os gentlemen drivers, e, sobretudo, amam carros, somada à chegada de pilotos profissionais nos últimos anos e ao planejamento assertivo de ações desenvolvidas pela APE, como descreve Henrique Assunção, CEO da entidade: “No primeiro momento, buscamos parceiros envolvidos com o evento, pois temos um grupo grande de empresários comprometidos com associação. Depois, para podermos dar retorno a esses parceiros, buscamos a transmissão ao vivo na TV, sem deixar nosso público no Youtube de fora, pois sempre tivemos grande audiência. Com esses parceiros, realizamos ações de relacionamento com seus públicos, por meio de lounges VIP, test-drives, sempre com foco no que o parceiro quer evidenciar”. Em 2019, a categoria teve compactos de suas provas exibidos no programa Auto+, pela Rede TV!.

Glauce Schutz - Endurance Brasil
Foto: Bruno Terena

PARCERIAS SÓLIDAS – Outro fator importante para o êxito da Endurance Brasil é que a reunião de empresários na pista gera ambiente de relacionamentos que levam a negócios, observa Assunção: “A Stuttgart Porsche, a Eurobike e a Via Itália (importadora da Ferrari e da Maserati), que nesta temporada não está conosco, são grandes parceiros. Além de seus CEOs estarem na pista, também patrocinam o evento, com todas essas ações de relacionamento”. Foi assim que a Stuttgart Porsche e a Eurobike, multimarcas de veículos de luxo, entraram no time de patrocínio da categoria, ao lado da Pirelli, que patrocina o evento desde o início. Para completar, em 2019, o Endurance Brasil ganhou o patrocínio máster da marca de cerveja Império. “São todos parceiros extremamente importantes para a categoria, pois, tendo essas parcerias sólidas, conseguimos planejar e evoluir com ações de marketing, comunicação, e transmissão das corridas pela tevê”, afirma Glauce Schütz, diretora da MS2 Comunicação e da Intervalo Eventos que é a coordenadora do evento.

BONS RESULTADOS – Marcel Visconde, presidente da Stuttgart Porsche, além de ter sua própria equipe, a Stuttgart Motorsports, fornece o safety car e o medical car das provas. Henry Visconde, presidente do Grupo Eurobike, também tem seu próprio time na GT4. Parte do trabalho de manutenção e preparação dos carros de corrida é feito nas oficinas da Eurobike. O serviço de pista e alguns serviços mais específicos são prestados há alguns anos pela MC Tubarão. A marca tem ainda adesivos de apoio, além dos relativos ao patrocínio da categoria, nos dois McLaren da competição – dos quais o segundo estreou na última prova – preparados pela equipe AutLog Racing. Os irmãos Visconde são vitais para o sucesso do Endurance Brasil, na avaliação de Assunção: “O Marcel e o Henry Visconde foram grandes incentivadores desde o começo do projeto. O Henry corre conosco há várias temporadas, e o Marcel desde 2017. Ambos atraíram amigos e apaixonados pelo puro automobilismo”. Em contrapartida, o Endurance Brasil é igualmente importante para eles, não só pelos bons resultados esportivos. Em dupla com Ricardo Maurício, da Stock Car, Marcel foi campeão nacional em 2017, com o único GT3 da pista entre protótipos muito velozes, enquanto Henry, na fase nacional da categoria, foi campeão da GT2 em 2016, pilotando um BMW M3, e da GT4, em 2018, com um Audi RS3.

Marcel Visconde e Ricardo Maurício - Endurance Brasil
Foto: Bruno Terena

STUTTGART – “Além da divulgação da empresa em si, a participação no Endurance Brasil reforça a imagem esportiva da Stuttgart e da marca Porsche. Nossos clientes, além de gostarem de corridas, se identificam com a marca. Todos os técnicos e mecânicos da equipe trabalham nas oficinas da Stuttgart. Esse é um aspecto que fazemos questão de enfatizar: a equipe que cuida dos carros dos clientes no dia a dia fornece profissionais capazes de levar um carro de corrida à vitória. Isso mostra na prática o nível de excelência das nossas oficinas. É uma mensagem institucional fantástica e fortalece muito a imagem da empresa. Além disso, a Porsche tem uma história vitoriosa em competições em todo o mundo, e o Brasil não é exceção. A Stuttgart deu, e continua dando, uma contribuição significativa para essa história. Isso é um orgulho para nós”, diz Marcel Visconde. A Stuttgart Porsche foi importadora da marca de 1997 a 2015 e atualmente tem concessionárias Porsche em São Paulo, Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro e Recife. E desde os anos 1990 é forte incentivadora do automobilismo nacional. “O histórico da Stuttgart com o endurance nacional é bem mais antigo. Remonta à década de 1990, no início das atividades da empresa. Já tínhamos equipe naquela época e patrocinamos algumas edições das Mil Milhas, por exemplo. Só não estivemos envolvidos em provas de endurance em um período muito curto, de poucos anos”, ele lembra.

Henry Visconde - Endurance Brasil
Foto: Bruno Terena

EUROBIKE – Para a concessionária, que representa as marcas Audi, BMW, BMW Motorrad, Jaguar, Land Rover, Mini e Porsche, além de ser importadora oficial da McLaren, com lojas em São Paulo, Ribeirão Preto (SP), Brasília e Goiânia, o Endurance Brasil também é parte importante da estratégia de negócios, explica Henry Visconde, que corria no regional gaúcho de endurance há muito tempo, e lá foi campeão em sua categoria em 2006 e 2008: “A Eurobike tem concessionárias de várias marcas premium e algumas têm imagem profundamente ligada ao automobilismo de competição. Dessas, quase todas têm pelo menos um carro no Endurance Brasil, ainda que sem envolvimento das respectivas fábricas ou importadores. Isso já transforma o Endurance Brasil em uma plataforma de divulgação interessante. Trabalhamos com carros conhecidos pelo luxo, pelo alto desempenho e pelo status que dão a seus proprietários. Participar de um campeonato de alto nível como o Endurance Brasil é uma maneira de divulgar a Eurobike e associá-la à imagem de tecnologia e qualidade proporcionadas pelas competições”. E aí entra o aspecto pessoal: “Corro de automóvel há muitos anos e sempre procurei defender alguma marca que a Eurobike representa. Com o patrocínio ao Endurance Brasil, posso unir o útil ao agradável. Divulgo o nome da Eurobike, contribuo com o campeonato do qual participo e crio oportunidades de relacionamento com clientes, tanto atuais quanto potenciais”.

Rafael Faquineti - Pirelli
Foto: Divulgação

PING-PONG COM RAFAEL FAQUINETI, responsável pelo motorsport da Pirelli para a América Latina

Por que a Pirelli patrocina o Império Endurance Brasil?
RF: A Pirelli patrocina e é parceira da categoria desde 2015, sempre acreditando no seu potencial de crescimento, e, hoje, ela se consagra como a mais importante categoria de GT e protótipos do Brasil. O apoio da Pirelli no automobilismo é intrínseco em seu DNA, patrocinando as categorias mais rápidas do mundo, como Fórmula 1, Mundial de Superbike e Mundial de Rally (a partir de 2021), e o Império Endurance Brasil, Stock Car e Brasileiro de SuperBike, por exemplo, quando falamos de categorias nacionais. Essas parcerias de sucesso confirmam a liderança da Pirelli no automobilismo mundial, graças à experiência adquirida ao longo de mais de 110 anos no motorsport.

Qual é o retorno que esse patrocínio proporciona?
RF: Com o fornecimento de pneus para a categoria, a Pirelli coleta informações preciosas e de grande valia para o desenvolvimento de novos produtos para os carros de rua. Essa é uma pratica que a Pirelli faz não só com a Império Endurance Brasil, mas sim em todos os campeonatos de que participa. O objetivo é sempre agregar e evoluir cada vez mais os pneus, aproveitando o know-how adquirido nas pistas e levando-o para as ruas. A estratégia da Pirelli é também agregar no desenvolvimento de novos produtos do segmento Premium e Prestige (High Value), conceito que está associado a pneus de alta performance, que equipa os carros mais velozes das principais montadoras do mundo.

A parceria envolve o fornecimento de pneus?
RF: Além do fornecimento de pneus para as principais e mais importantes equipes da categoria, a Pirelli presta todo o suporte técnico de engenharia, acompanhando e monitorando o comportamento de todos os pneus. A companhia auxilia as equipes e pilotos a encontrarem a melhor performance e explorar todo potencial de seus respectivos carros.

Quais ações de marketing esse patrocínio envolve?
RF: Devido à pandemia global da covid-19, não estamos fazendo nenhum tipo de ativação nesse momento, mas temos planos de, no futuro, ativarmos campanhas promocionais junto com parceiros, revendedores e clientes.

Henrique Assunção - Endurance Brasil
Foto: Bruno Terena

PING-PONG COM HENRIQUE ASSUNÇÃO, presidente da APE

Algumas questões esportivas contribuem para o sucesso da Império Endurance Brasil. Uma delas é a flexibilidade do regulamento esportivo, que atualmente tem seis categorias, entre P1, P2 e P3, de protótipos, GT3, GT3 Light, GT4, GT4 Light, de carros de gran turismo, e a chamada geral. E cada carro pode ser conduzido por até quatro pilotos. São fatores atrativos na categoria orçamento. Outra questão importante é a contribuição do de pilotos profissionais , que começaram a aparecer como convidados e atualmente vários disputam o campeonato todo.

O Endurance Brasil cresceu bastante. Como isso aconteceu?
HA: Fizemos todo um planejamento de marketing a longo, médio e curto prazo, através da MS2 Comunicação e da Intervalo Eventos, que hoje coordenam a categoria. Acho que o crescimento veio pelo trabalho que realizamos, com essa união de forças. Muitos empresários/pilotos viram que poderiam ter um evento leve e agregador, com a disputa na pista, mas, fora dela, uma grande confraternização. Aí, foi aquela história, um chamou o outro!

Quando os pilotos profissionais começaram a participar?
HA: Em 2017, o Ricardo Maurício se tornou efetivo no grid, como parceiro do Marcel Visconde. Nessa época alguns vinham como convidados, mas isso começou a despertar o interesse tanto dos gentlemen drivers, muitos tinham pilotos profissionais como coach, quanto dos profissionais. Depois, vieram Daniel Serra, Julio Campos, Marcos Gomes, Cesar Ramos, Sérgio Jimenez, entre outros. No grid hoje temos em torno de dez profissionais, entre eles Nelsinho Piquet, Átila Abreu, Vitor Genz, Rafael Suzuki, Alan Hellmeister, Guilherme Salas, Renan Guerra, Gabriel Robe e Lucas Kohl, além do Ricardinho, do Julinho, do Cesinha, da Bruna Tomaselli, que dividiu o carro comigo, com Fernando Ohashi e com o Fernando Fortes na última corrida, no Autódromo de Curitiba, no último sábado, 5 de setembro, e do Ricardo Zonta, que substituiu Xandy Negrão nessa prova Quatro Horas de Curitiba.

Que diferença faz ter esses pilotos profissionais na categoria?
HA: Acho que a base é como nos campeonatos de sucesso da Europa. Então, é bem importante mesclarmos os profissionais com gentlemen drivers, fazemos uma corrida bonita, que atrai mídia e desperta a curiosidade dos formadores de opinião. Termos empresários de peso e pilotos de sucesso é uma ótima receita.

 

Estela Craveiro (MTb 15.590/SP) é uma jornalista paulistana experiente em muitas áreas, entre elas, negócios, marketing e automobilismo, setor que descobriu como repórter do jornal de economia Gazeta Mercantil, no fim dos anos 1990, e com o qual se manteve envolvida até metade da década passada, como repórter, criadora de sites e assessora de imprensa de pilotos. Agora, retorna ao esporte a motor com o F1Mania.net, para trazer matérias, entrevistas e notas sobre marketing esportivo. E-mail para contato: [email protected]