Tão ousado quanto modesto, Djalma Pivetta faz do automobilismo o seu mundo de negócios, em um case de marketing esportivo notável no cenário nacional
É impressionante o poder dos sonhos e da experiência sobre as pessoas. Djalma Pivetta, dono da equipe Iveco Usual Racing e piloto do caminhão 21 na Copa Truck, por exemplo. Estreou na categoria em 2019, com nada menos que o multicampeão Felipe Giaffone contratado para ser o piloto do caminhão 4. Em 2020, deu um caminhão novo para Giaffone pilotar, e colocou o que ele guiou na temporada anterior para ser usado em voltas rápidas com convidados e em ações promocionais de patrocinadores, ou para ser usado por quem se interessar por provas avulsas, com o número 2, como ocorreu com o experiente Valmir Benavides na corrida de Goiânia. Agora, prepara um caminhão novo para ele mesmo pilotar em 2021, e o que pilota neste ano também será usado em ações promocionais.
Sócio da Usual Brinquedos, Pivetta patrocina Átila Abreu, da Shell Racing, na Stock Car, Raphael Abatte na Copa Shell HB20 e Erick Medici no Drift, além de ter sua marca estampada no caminhão protótipo de Adalberto Jardim, outro veterano e respeitado piloto da Truck. No macacão, Pivetta ostenta no peito os logotipos da Iveco e da Usual Brinquedos, que em 2020 ganharam a companhia do logo da Shell, seu único patrocinador pessoal. Mas a lista de patrocinadores e parceiros da equipe que se alinha ao lado da Iveco e da Usual é grande: Pro Tork, Tintas Sherwin-Williams, Knorr-Bremse, Meritor, Garrett, Nexpro, Norton, FPT, Retífica São Cristóvão, Chiptronic, Robiel, Motorbull, Frum, Graxa, Bang Creative, Embreagex, Nutrilapa, Tanques Paralelo, Radiadores Visconde, Implema e Advance. O que dá ideia não só do vigor financeiro do time, mas, sobretudo, da boa gestão de negócios.
Nascido em 1971, época em que o automobilismo brasileiro começava a se expandir alegremente, aqui e no mundo, Djalma Lúcio Pivetta iniciou sua vida profissional como empacotador em um supermercado de sua cidade natal, Laranjal Paulista (SP). Mas logo passou a fazer dupla com o pai caminhoneiro na entrega de telhas para uma transportadora que tinha clientes na região de Interlagos, naquele tempo efervescente em que a moçada até acampava no autódromo. Adorava corridas. Tratava de fazer as entregas rapidinho e ia para a arquibancada ver treinos e o que estivesse rolando na pista.
A chave do caminhão foi o que ganhou de presente do pai quando completou 18 anos. Passou para o transporte de óleo vegetal e, anos depois, associou-se a João Gilberto Ghiraldi para fabricar utilidades domésticas, com a marca Usual Plastic, em Laranjal. Mas a dupla deu uma guinada. Passou a fazer brinquedos injetados em termoplástico, com matéria prima virgem, que ostentam o valioso selo do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia), em planta fabril instalada em área de 100 mil metros quadrados, e criou e a marca Usual Brinquedos.
O portfólio de produtos traz mais de 200 itens, em dezenas de linhas. E quais se sobressaem pela quantidade? As que remetem ao mundo infantil dos meninos, especialmente os do interior: caminhões de muitos tipos, até de lixeiros e, claro, bombeiros; tratores de tudo que é jeito; pick-ups variadíssimas, de simples a big foots e monsters; ônibus, até do Corinthians; carros, de simples a turbinados; e motos invocadas, muitas. Na linha de frente estão muitos modelos de ônibus e caminhões da Iveco, que começaram a ser fabricados em 2016; máquinas agrícolas e para serviços pesados da Case, inclusive sobre caminhões Iveco; motos, pick-ups e caminhões com selo da Pro Tork, a maior fábrica brasileira de tudo o que você imaginar para motos e motociclistas e grande patrocinadora de pilotos e equipes de todo tipo de competições com motocicletas; os trucks Iveco 4 e 21, de Giaffone e Pivetta, lançados no fim de 2019, inclusive sobre réplicas das carretas Iveco que os carregam de verdade entre a oficina e os locais de prova; e réplicas de Stock Car, inclusive o 51 de Átila Abreu, lançado em 2017, ano em que a Usual Brinquedos passou a patrocinar o piloto da Shell Racing na Stock Car.
Átila, aliás, foi quem levou Pivetta para as pistas. Primeiro para o kart. E aí ele construiu um mini kartódromo particular para treinar em terreno adjacente à fábrica, agora arrendado para Nelsinho Piquet e João Barion, que ali estão montando o parque temático Barbarius World. Depois, ele fez alguns testes com carros da Porsche Cup, mas queria mesmo era saber de caminhão. Assim, comprou a estrutura de uma equipe da antiga Fórmula Truck; conquistou o patrocínio da Iveco; em 2019 botou na pista seus dois caminhões com alguns recursos ultrapassados, pois estavam parados há muito tempo; e virou o ano construindo o primeiro caminhão novo que estreou em 2020.
Antes de Átila, em 2016, Pivetta já havia patrocinado Fábio Fogaça, e depois Felipe Lapenna, na Stock Car. Um dos segredos do seu sucesso no automobilismo e nos negócios com automobilismo é que, desde então, ele tirou o máximo partido do relacionamento nos bastidores de corridas que geram negócios, um dos principais retornos que qualquer patrocinado pode proporcionar ao seu patrocinador. Nos dois sentidos, primeiro como patrocinador e, desde o ano passado, como patrocinado.
O outro segredo é que, ao se tornar dono de equipe, Pivetta também tirou o máximo partido de sua experiência como empresário, tanto na administração e na captação de parceiros quanto no marketing, para escrever uma das mais belas trajetórias do cenário atual do automobilismo nacional. E tudo inspirado no quê? Na paixão de moleque por corridas de carro e por caminhões. Provavelmente também na paixão por brinquedos. É o que se pode deduzir pela singular capacidade de Pivetta em mesclar o que faz em sua indústria com o universo dos veículos a motor que ama desde pequeno. O portfólio de produtos da Usual Brinquedos que o diga.
PING-PONG COM DJALMA PIVETTA, CHEFE E PILOTO DA IVECO USUAL RACING
Você tem um perfil diferente no mundo das corridas. É patrocinado e, ao mesmo tempo, patrocinador. Como isso ocorreu?
DP: Desde criança gostei de automobilismo e sempre sonhei em viver neste meio. Trabalhei duro e, quando conquistei a condição de patrocinar alguns pilotos, fui à busca deles. Estes patrocínios me proporcionaram chegar onde sempre sonhei, conheci muitas pessoas que admiro e comecei a vivenciar os bastidores do automobilismo de perto. Ser patrocinador foi o primeiro passo para realizar um sonho ainda maior, ser piloto.
Qual é o retorno do investimento que você faz como patrocinador?
DP: Viver o automobilismo de perto proporcionou muito retorno para mim e minha empresa. Desde que cheguei, fechei várias parcerias, gerei negócios e encontrei pessoas que vieram trabalhar comigo e continuamos assim até hoje. No segmento de brinquedos, sempre pensei em atingir nichos diferentes, ainda não explorados pelas indústrias do setor e os patrocínios colaboraram bastante para atingir este objetivo. Hoje vendemos brinquedos para adultos e também para outras empresas que, assim como eu, patrocinam o automobilismo e buscam material promocional que tenha ligação com os investimentos, como é o caso das réplicas da Stock Car. Este ambiente é perfeito para marketing de relacionamento. Gosto de levar pessoas aos autódromos, de apresentá-las a este universo. Gosto de explicar que não adianta só expor a marca lá, que é preciso estar presente, conhecer pessoas, e que não é só uma experiência de final de semana e sim uma oportunidade de ampliar a rede de contatos. Gosto de destacar que foi assim que atingi muitos dos meus objetivos.
Qual é o retorno que você oferece aos seus patrocinadores?
DP: Posso dizer que inovamos na Copa Truck e hoje outras equipes seguem nosso exemplo. Estreamos em 2019 produzindo fotos e vídeos de alta qualidade e deixando à disposição dos nossos patrocinadores. Também produzimos vídeos exclusivos para o patrocinador, quando solicitado. Outro diferencial é a cobertura em nossas redes sociais, que realizamos nos finais de semana das etapas, com fotos, vídeos e informações dos bastidores do evento. Nossa equipe também gosta de entender os negócios dos nossos patrocinadores e promover oportunidades entre eles. Nesta temporada também contratamos uma assessoria de imprensa, que está trazendo muito retorno de mídia. Mas o maior diferencial, na minha opinião, é o lançamento das réplicas dos truck 4 e 21 e a comercialização pelo canal da Usual Brinquedos. Estamos levando as marcas dos nossos patrocinadores para milhares de lares, aplicadas nestes brinquedos.
Conquistar o patrocínio da Shell é importante para você?
DP: Ter a marca Shell estampada no meu truck e no meu macacão é muito importante para mim. Esta marca é uma das maiores patrocinadoras do automobilismo brasileiro e só tem pilotos feras neste time. Ainda sou um iniciante na categoria e meu currículo de piloto não me habilitaria a estar no time, mas me orgulho em dizer que minha história com mais de dez anos de caminhoneiro abriu as portas da Shell. Hoje represento com muito carinho essa classe batalhadora que movimenta nosso país.
O logotipo da Usual Brinquedos está no caminhão do Adalberto Jardim. Por que patrocinar um concorrente na Truck?
DP: Não considero o Adalberto Jardim um concorrente, mas sim um amigo, um conselheiro. Desde que entrei na Copa Truck ele tem colaborado com dicas importantes para mim como piloto e também para a equipe. Patrocinei o Jardim no passado, hoje o que temos é uma parceria, trocamos figurinhas, mas, por consideração, ele carrega minha marca até hoje.
Estela Craveiro (MTb 15.590/SP) é uma jornalista paulistana experiente em muitas áreas, entre elas negócios, marketing e automobilismo, setor que descobriu como repórter do jornal de economia Gazeta Mercantil, no fim dos anos 1990, e com o qual se manteve envolvida até metade da década passada, como repórter, criadora de sites e assessora de imprensa de pilotos. Agora, retorna ao esporte a motor com o F1Mania.net, para trazer matérias, entrevistas e notas sobre marketing esportivo. E-mail para contato: estela.craveiro@f1mania.net
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