O piloto paulista Fernando Rees, 19 anos, iniciou a temporada 2004 disputando o Campeonato Europeu de Fórmula 3, hoje considerada a categoria de acesso mais competitiva rumo à Fórmula 1. Porém, após oito dias de testes na pré-temporada e duas rodadas do campeonato realizadas, a carreira do piloto brasileiro está prestes a passar por uma reviravolta. Rees, que começou a temporada competindo pela equipe suíça SRT, pode deixar temporariamente as provas de lado para se dedicar exclusivamente à função de piloto de testes na equipe francesa ASM, líder do campeonato e considerada o time mais forte da categoria. O convite surgiu no último final de semana, durante a segunda rodada do torneio, realizada no Estoril, em Portugal.
Fernando, que disputou temporadas no kartismo e Fórmula Renault na Europa, além da Fórmula 3 Sul-Americana, conseguiu entrar para o seleto grupo de pilotos da Fórmula 3 Européia após destacar-se nos testes realizados em dezembro de 2003, também no circuito do Estoril. Naquela oportunidade, Rees guiou pela primeira vez um dos carros da equipe ASM, durante os testes dos pilotos contratados para representar a fábrica alemã Mercedes-Benz na temporada 2004. O brasileiro conseguiu ser o mais rápido entre os oito pilotos presentes ao teste e surpreendeu ao chefe-de-equipe Frédéric Vasseur, da ASM, que se comprometeu a ajudá-lo a dar seqüência a sua carreira.
Sem condições de competir em uma equipe oficial Mercedes-Benz, cujo limite de vagas já estava preenchido, o brasileiro acabou conseguindo uma vaga na equipe suíça SRT, que compete com chassi Dallara e motor Opel. O objetivo era familiarizar-se com as pistas e ganhar experiência para buscar uma vaga em uma equipe oficial de fábrica em 2005. No entanto, desde o princípio ficou evidente o abismo técnico que separa as equipes menores dos principais times oficiais de fábrica.
“A SRT é uma equipe privada e não dispõe dos investimentos que as fábricas injetam nos times oficiais”, explica Fernando Rees. “Nós até conseguimos andar entre os 8 primeiros nos testes de Valência (Espanha), que abriram a temporada, mas desde então todo mundo evoluiu e a gente teve uma série de problemas no carro, característicos da falta de investimento em manutenção e desenvolvimento”, revela o brasileiro. Os problemas técnicos culminaram com a não-participação de Rees na segunda rodada da temporada, em Portugal. “Meu carro era mais de dois segundos por volta pior do que os carros das equipes de ponta. O motor estava em um estágio limite de quilometragem sem revisão e eu perdia até 8 km/h em relação aos outros só nas retas”, esclarece Rees. “O meu carro era o único em que o motor não havia sido substituído para a corrida do Estoril, por isso decidi não participar da prova naquela condição”, acrescenta.
Poucas categorias no mundo hoje vivenciam uma disputa tão acirrada entre montadoras como a Fórmula 3 Européia. Mercedes Benz (9 pilotos), Opel (5 pilotos), Honda (2 pilotos), Renault (2 pilotos) e Toyota (3 pilotos) apóiam oficialmente mais da metade do grid da categoria. “As montadoras investem em tecnologia, como no caso da Mercedes e da Opel, ou diretamente no programa de desenvolvimento de pilotos, como fazem a Renault e a Toyota”, diferencia Rees. O outro brasileiro na Fórmula 3 Européia, o carioca Roberto Streit, é um dos pilotos oficiais de fábrica. Streit compete pela equipe Prema Powerteam, como integrante da “Toyota Driver’s Academy”, ao lado do francês Franck Perera e do japonês Katsuyuki Hiranaka.
A prova da seriedade das equipes oficiais no trabalho de desenvolvimento de seus carros também se revela na estratégia de contratação de pilotos de testes. O regulamento da Fórmula 3 Européia restringe o número de dias em que pilotos participantes do campeonato podem participar de testes privados e coletivos. O finlandês Kimmo Limatainen, ex-rival de Kimi Raikkonen nos tempos do kart, por exemplo, é o responsável por parte dos testes no carro do compatriota Nico Rosberg, vencedor das duas primeiras provas da temporada. A ASM pretende utilizar o brasileiro Fernando Rees para um trabalho semelhante, desenvolvendo o equipamento ao longo da temporada, já que os três pilotos oficiais da equipe – o britânico Jamie Green e os franceses Eric Salignon e Alexandre Premat, não podem participar desse tipo de teste. “Não é uma decisão fácil. Como piloto, claro que eu quero alinhar no grid e participar de corridas”, enfatiza Fernando Rees. “Mas tenho que pensar no futuro, e sei que testando pela ASM terei a chance de abrir as portas para uma oportunidade muito melhor em 2005”, admite.
O acordo com a ASM assegura a participação de Fernando em provas fora do Campeonato Europeu de Fórmula 3, como o Marlboro Masters (Holanda), a corrida da Fórmula 3 Inglesa em Spa Francorchamps, na Bélgica, e a temporada asiática (Macau, Dubai e Korea) no final do ano. “Minha meta agora é aproveitar esta oportunidade única e compreender o carro e a equipe a fundo me preparando para as corridas em que vou participar”, antecipa Rees, que em breve deverá anunciar detalhes do acordo com a ASM.