Categoria criada para oferecer pistas de alta velocidade a proprietários de carros da marca alemã ganhou vigor em 15 anos de atividades planejadas para deleitar seus pilotos
Quando a próxima temporada chegar, o ator Caio Castro deve causar frisson no cenário da Porsche Cup, principalmente se levar a namorada Grazi Massafera para a pista. Como ocorreu em Interlagos, em outubro, com direito a volta rápida, recadinhos de amor no pneu do carro, e fotos da cena de grafia publicadas pelos dois no Instagram e replicadas milhares de vezes pela mídia artística e de celebridades. Com contrato assinado em agosto para correr na categoria de gran turismo em 2021, ele está aproveitando as etapas restantes do campeonato de 2020 para treinar nas pistas com os pilotos consultores da categoria, antes das corridas. Foi convidado em 2019, por causa de sua notória paixão por esporte a motor e efetiva participação em corridas de kart e outras categorias nos últimos anos.
A estratégia ultrapassa o marketing. Para Dener Pires, diretor da Dener Motorsport, criador e promotor da Porsche Cup no Brasil, além de aumentar o espaço da competição e da marca em mídia espontânea, a participação de Caio passa subliminarmente recados importantes: “Sua presença na categoria coloca a Porsche Cup em evidência em outros nichos além do esportivo. E mostra também que se o piloto for determinado a se desenvolver com nossos carros, isso é possível mesmo para o competidor que inicia mais velho no esporte. Não é necessário começar a correr de kart “profissionalmente” com sete ou oito anos de idade para praticar automobilismo”.
Tudo a ver com a categoria, há algumas temporadas composta pelas classes Porsche Carrera Cup e Porsche GT3 Cup, que “surgiu como um sonho de proprietários de Porsche”, após quatro anos de namoro de Dener com a montadora alemã, enquanto preparava e corria com carros da marca nas edições da Mil Milhas de Interlagos, e outras provas de longa duração, de 1995 a 2005, para provar à empresa que manda bem no preparo dos carros e finalmente conquistar seu aval. O campeonato começou em abril de 2005, com 12 carros na pista, conduzidos por gentlemen drivers. Eles continuam sendo maioria entre os mais de 30 que participam da modalidade Sprint, com provas curtas – foram34 na última etapa, em Goiânia. As provas longas da Porsche Endurance Series reúnem 50 pilotos, em duplas nas corridas menores, de 300 km, e até 75, em trios, na prova de 500 km. Vários são profissionais, incluindo alguns que atuam como coach dos gentlemen drivers. Na prova 300 km de Goiânia, disputada em outubro, por exemplo, estavam lá Cacá Bueno, Sergio Jimenez, Thiago Camilo, Ricardo Mauricio, Cesar Ramos, Rafael Suzuki, Átila Abreu, Guilherme Salas, Raphael Reis, Beto Gresse, Danilo Dirani e Gaetano di Mauro, ao lado dos ex-F1 Felipe Massa, Nelsinho Piquet, Ricardo Zonta e Lucas di Grassi, campeão mundial da Fórmula E.
A Endurance Series foi lançada em 2016, depois de uma corrida experimental, no fim de 2015, que encantou todo mundo em Interlagos, justamente porque pilotos profissionais começaram a também querer correr na categoria, Dener lembra. Longe da pretensão de ser berço de pilotos profissionais, o negócio da Porsche Cup é oferecer muito prazer: “Nosso foco é a entrega dos carros e a promoção do evento”. As corridas são protagonizadas por carros iguais, preparados pela equipe de sua oficina, e testados por um time de pilotos profissionais comandados por Max Wilson, antes de serem entregues aos competidores. O que ele proporciona, como define, são “corridas de pilotos e não de carros”, como ocorre em muitas outras categorias com regulamento aberto e várias equipes com orçamentos diferentes e decisivos.
MARKETING PERSONALIZADO – Para isso, foi preciso também construir um time de patrocinadores. A Brandt, marca de insumos agrícolas, patrocinadora do piloto Miguel Paludo, e a Michelin, que também fornece pneus e patrocina o piloto Cesar Urnhani, bancam a exibição ao vivo de todas as corridas no canal SporTV2. Na lista de patrocínio e apoio, alinham-se ao lado da Porsche Brasil; da Shell, que fornece combustível e tem um carro na categoria, pilotado por Werner Neugebauer; da Mobil; da OakBerry; da BraClean; da TAM; da TAG Heuer; da XP Private e da Fremax. A maioria está com a categoria há alguns anos, pois Dener cultiva parcerias de longo prazo. Foram conquistadas aos poucos. “A prospecção varia muito em cada caso e todos têm um atendimento sob demanda. Procuramos entender os atributos de cada possível marca patrocinadora ou apoiadora e, a partir daí, oferecer um pacote “taylor made” (personalizado). Um bom exemplo recente é o da TAM. Nossa diretora de marketing, Regina Franzé, trabalhou na companhia antes de atuar no segmento do esporte a motor. Ela conhecia muito bem a cultura corporativa da marca, seus atributos, valores e potencial de ativação. Assim conseguimos chegar a um pacote interessante para ambas as partes” ele conta.
CULTURA DE EXCELÊNCIA – O que ganham patrocinadores e parceiros? “A Porsche Cup oferece retorno de mídia e a possibilidade das mais variadas ativações, de áreas de hospitalidade nos eventos até experiências com os carros de competição. E principalmente entregas customizadas de acordo com o briefing de cada marca”, descreve Dener. Por exemplo, há alguns anos, os convidados para ver a corrida preliminar da Porsche Cup no GP do Brasil de F1 se encontraram na sede da equipe, rumo a Interlagos, e, na volta, ganharam abastecimento dos seus carros com o mesmo combustível Shell V-Power Racing utilizado pelos Porsches na corrida. Mas o maior retorno é intangível: “Nosso esporte é pautado por inovação, desenvolvimento e alto rendimento. E isso obviamente tem um custo alto. Para qualquer marca, a associação a essa cultura de excelência traz uma série de atributos muito caros a todos seus stakeholders (parceiros)”.
PAIXÃO MECÂNICA – Um dos pilares do sucesso da Porsche Cup no Brasil é a sabedoria de Dener Pires. Filho de mecânico especializado em Porsche, mecânico se tornou, estudou administração de empresas, trabalhou na Alemanha, e foi preparador e chefe de equipe em várias edições das tradicionais 24 Horas de Le Mans e de Daytona. Outro pilar é a paixão por Porsche. Comprou o seu primeiro, usado, aos 17 anos, em 1983, e passou muito tempo mexendo nele e nos Porsches antigos, e de consulados, na oficina do pai, naquela época em que era proibido importar carros. E o terceiro pilar é a experiência nas pistas. Primeiro com motos, depois em um campeonato de carros antigos, e posteriormente correndo de Porsche em provas nacionais de endurance. Tudo alicerçado na clareza dele sobre seus objetivos: “Somos a maior categoria de gran turismo da América Latina. Representamos uma marca icônica e de tradição nas pistas de todo o planeta. Nossa missão é proporcionar competição em alto nível e propiciar equivalência de equipamento para que no fim do dia prevaleça o melhor piloto, sempre em um ambiente de excelência e camaradagem entre os adversários”.
JOVENS – Paralelamente, Dener Pires trabalha para ampliar o raio de alcance da categoria. Assim, em 2018, foi instituído o Porsche Junior Program Brasil, com distribuição de subsídios de mais de R$ 1 milhão em cada uma das duas edições realizadas, envolvendo 80 pilotos, para selecionar três jovens em cada, elegíveis para a fase global do programa, que pode proporcionar uma bolsa para correr na Europa e uma carreira como piloto de fábrica da Porsche aos vencedores. Vitor Baptista (hoje na Stock Car), Marcus Vario, Marcel Coletta (fez um ano na Stock Car), Felipe Baptista (hoje na Stock Light) e Matheus Iorio (hoje na Stock Light e na Porsche Endurance Series) foram os vencedores do programa, que retornará em 2021, enquanto vários dos 12 finalistas de cada ano correm no campeonato Sprint da Porsche Cup.
VIRTUAL – Em 2019, Dener instituiu o Porsche Esports Program Brasil, saindo na frente da onda de automobilismo virtual que ganhou força em 2020, por conta da pandemia de covid-19: “Aqui nos conectamos com um novo público, jovem e ávido por tecnologia. Diferentemente da geração de 35 anos de idade para cima, eles não ficam contando os dias para fazer 18 anos, ter seu primeiro carro e sair dirigindo. Querem mobilidade, não possuir um carro. E podem perfeitamente ser fãs da marca Porsche por meio de seus simuladores. O automobilismo virtual dá acesso ao esporte, pois é muito mais barato ter um simulador que um carro de corrida. E, se bater, basta “resetar” o game e começar de novo”. Mas, para dar seu toque pessoal, está fazendo o contrário da tendência que coloca pilotos profissionais – como Max Verstapen, da F1, e Gaetano di Mauro, piloto da Shell Racing na Stock Car – no mundo dos games. Está preparando Jeff Giassi, vencedor dos campeonatos virtuais da Porsche Cup Brasil em 2019 e 2020, para estrear na pilotagem de um Porsche de verdade na prova 500 Km de Endurance que encerrará esta temporada, em dezembro, em Interlagos.
SONHOS INTERNACIONAIS – Porém, bem antes, Dener Pires inscreveu a Porsche Cup como preliminar de todas as corridas da F1 no Brasil, desde a criação da categoria, em 2005, e investiu em etapas da Porsche Cup brasileira no exterior. Não fosse a covid-19, nesta temporada o campeonato teria, mais uma vez, uma etapa em Portugal, onde a categoria correu, em Estoril, em 2011, 2012, 2014 e 2019, e no Algarve, em 2013; além de ter corrido também em Barcelona em 2013, e de ter feito provas no autódromo de Buenos Aires, em 2010, 2011 e 2017, e na pista da Termas de Río Hondo, palco da MotoGP, em 2016 e 2017.
Tudo porque os competidores da categoria querem: “As provas internacionais são importantes para proporcionar entregas diferenciadas aos nossos pilotos. Assim como recebemos competidores de nacionalidades diferentes para a preliminar da F1 em Interlagos, muitos dos nossos pilotos têm o sonho de correr em pistas icônicas do cenário internacional. São eventos importantes também para ações de relacionamento com seus patrocinadores. O Porsche 911 GT3 Cup é o carro de competição mais vendido no planeta. Corre no mundo inteiro, faz preliminar da F1 nos Estados Unidos e na Europa. É natural que nossos pilotos e patrocinadores desejem também estar nesses grandes palcos – e sempre que for possível tentaremos proporcionar isso”.
AO VIVO – Mas, no momento, o que Dener Pires mais deseja é repetir a experiência de colocar a categoria para correr em autódromos lotados: “Gostaria de agradecer ao público que nos anos de 2018 e 2019 compareceu em nossas corridas. A operação de arquibancada em todas as etapas é recente na história da Porsche Cup e abrilhantou ainda mais o nosso evento. É muito importante vermos que os torcedores gostam das nossas corridas, dos carros e das disputas que nossos pilotos proporcionam”. Só falta a pandemia de covid-19 deixar.
PING-PONG COM DENER PIRES, PROMOTOR DA PORSCHE CUP BRASIL
Como você avalia a evolução da Porsche Cup no Brasil ao longo dos 15 anos que está completando em 2020?
DP: Nosso campeonato surgiu como um sonho de proprietários de Porsche. No início, tinha um ambiente de clube fechado correndo em Interlagos. Ano após ano a categoria foi crescendo. Ganhamos novas pistas, novas categorias, um programa de desenvolvimento de jovens talentos, um programa de automobilismo virtual. Grandes marcas entraram e muitas estão conosco há anos, emplacamos todas as nossas corridas na televisão e temos respeitável cobertura na mídia. Corremos no exterior, atraímos pilotos do mundo todo para correr aqui. Enfim, já realizamos muito e tivemos esse mérito reconhecido até mesmo pela própria Porsche na Alemanha. Mas estamos pensando em como ser melhores na próxima etapa, em como entregar aos pilotos, patrocinadores e torcedores o melhor final de campeonato que a temporada 2020 merece.
Quais seus planos para os próximos anos?
DP: Este foi um ano atípico pela pandemia. O impacto sobre nosso esporte e sobre a promoção de eventos em geral foi uma realidade. Quando muitos reduziram calendários e diminuíram o número de corridas (até mesmo a F1!), nós aumentamos a entrega. Em vez de 12 corridas de Sprint, promoveremos 13 em 2020. Espero que 2021 seja uma temporada que marque o retorno à normalidade e que possamos realizar as etapas internacionais que foram inviabilizadas pela covid-19. No ano passado corremos com muito sucesso no Estoril e seria ótimo voltar para as pistas europeias. A corrida da F1 no Algarve nesta temporada foi muito legal e já corremos lá no passado. Seria muito bacana entregar uma jornada internacional para nossos pilotos e patrocinadores em 2021.
A Brandt, patrocinadora do piloto Miguel Paludo, banca uma das cotas das transmissões das corridas pela SporTV. Isso é importante para a categoria?
DP: Os carros de corrida levam logotipos de seus patrocinadores porque essas marcas precisam de notoriedade. O esporte é uma excelente plataforma de visibilidade para as marcas e, nesse sentido, a tevê é o maior holofote. O pacote de mídia da Porsche Cup é um dos maiores do esporte a motor no Brasil: todas as nossas corridas são transmitidas ao vivo, inclusive provas de longa duração, na íntegra. Ao mesmo tempo, os canais de televisão também têm seu business para olhar. São empresas com fins lucrativos e precisam de anunciantes para levar uma programação de qualidade aos assinantes. Para a Porsche Cup é motivo de muito orgulho perceber que um patrocinador internacional como a Brandt se interessou pela cota de mídia das transmissões da categoria. Poderia comprar anúncio no Globo Rural, por exemplo, já que é uma empresa de soluções para o agronegócio. Mas optou por investir a verba de mídia na transmissão da Porsche Cup e isso nos enche de orgulho.
Que importância tem para a Porsche Cup a parceria da Michelin?
DP: A Michelin, assim como a Mobil, tem parceria global com a Porsche. A última geração de nossos carros, o Porsche 911 GT3 Cup – versão 991-2 foi desenvolvida sobre pneus Michelin. Temos um carro com suas cores no grid e, mais que isso, temos muito orgulho também em falar que é uma parceria que entrega muito em termos de performance. Na última troca de fornecedora oficial de pneus, os tempos de volta em todas as pistas caíram significativamente. Então além da parceria e do patrocínio, foi um movimento que proporcionou maior entrega para todos os pilotos do grid. Sobre a cota na transmissão do SporTV, também é motivo de orgulho, especialmente com uma marca global como a Michelin, que está presente em diversas categorias globais, ter nossas corridas selecionadas por seu time de mídia para compra de cota de tevê.
Estela Craveiro (MTb 15.590/SP) é uma jornalista paulistana experiente em muitas áreas, entre elas negócios, marketing e automobilismo, setor que descobriu como repórter do jornal de economia Gazeta Mercantil, no fim dos anos 1990, e com o qual se manteve envolvida até metade da década passada, como repórter, criadora de sites e assessora de imprensa de pilotos. Agora, retorna ao esporte a motor com o F1Mania.net, para trazer matérias, entrevistas e notas sobre marketing esportivo. E-mail para contato: estela.craveiro@f1mania.net
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