No ano em que o Sertões é Mundial, pódio é compartilhado por Brasil, França e Argentina. Cristian Baumgart e Beco Andreotti levam o quarto título nos carros; Casarini/Mayer repetem nos UTVs. Adrien Metge se consagra nas Motos e Manuel Andujar nos Quads
Foram dez dias de desafio, 3.615km percorridos por sete estados do Nordeste (RN, PB, CE, PI, BA, AL e PE). O Sertões 100% sertão e 100% nordestino, que consagrou neste domingo (22) seus grandes campeões, dignos vencedores de uma prova que chamou a atenção pela dureza e exigência técnica do percurso, assim como as paisagens paradisíacas. A rampa montada junto ao Forte de Tamandaré, na cidade pernambucana de mesmo nome foi o palco para a festa. De quem acelerou forte para terminar na frente e também de quem encarou o desafio com o objetivo de superá-lo. O cansaço nos rostos deu lugar aos sorrisos e à emoção.
Nas quatro modalidades, o degrau mais alto do pódio foi ocupado por duplas acostumadas à vitória, mas também por dois pilotos que conquistaram o maior rally das Américas de forma inédita. Caso do francês Adrien Metge (Yamaha), nas motos. Fora da edição 2020 por testar positivo para Covid-19 na semana da prova, ele pôde mostrar sua força este ano. Nas oito especiais cronometradas, venceu seis, foi o mais rápido em uma (punido por uma infração) e, no estágio entre Delmiro Gouveia e Arapiraca, sábado, procurou administrar a vantagem. Com a vitória, Metge tornu-se o quinto estrangeiro a conquistar a prova – Heinz Kinigadner, Marc Coma, Cyril Despres e Paulo Gonçalves foram o antecederam. Muito querido pelos brasileiros, ganhou o apelido de Croissant.
“É uma sensação muito boa, gosto muito de correr no Brasil e queria fazer o Sertões desde que cheguei aqui, em 2014. Andei em 2015 e voltei agora. Estou muito feliz por vencer e manter o título com a Yamaha, a equipe foi sensacional, não tivemos qualquer estresse. No ano passado foi difícil acreditar que eu ficaria fora na semana da largada. A prova foi muito legal, completa, proporcionou todos os tipos de piso, não ficou nada de fora”, disse Adrien Metge.
Nos quadriciclos, o argentino Manuel Andujar (Yamaha) largou mais preocupado em defender sua posição no Mundial de Rally Cross-Country FIM, travou uma boa disputa com o maranhense Marcelo Medeiros e tomou a liderança após o acidente sofrido pelo rival na sétima etapa (Petrolina a Delmiro Gouveia). O resultado coroa um ano iniciado com a vitória no Rally Dakar.
“Meu principal objetivo era pontuar pelo Mundial e foi ainda melhor, pois consegui vencer na geral. Uma prova linda, bastante exigente, fico feliz por levar esse resultado para a Argentina. Volto para minha cidade (Lobos) com mais essa conquista”, disse Manuel Andujar.
E o que dizer da disputa nos UTVs, que premiou pelo segundo consecutivo Deninho Casarini e Ivo Mayer (UTV), com gosto de superação? Uma capotagem na primeira curva do prólogo, ainda em Pipa, fez a dupla largar da 35ª posição na primeira etapa e terminar em 16º na geral. Daí em diante veio construindo uma prova consistente, escalando a classificação e passaram a comandá-la ao fim da sétima etapa, numa disputa acirradíssima na modalidade, que contou com sete vencedores diferentes em oito etapas.
“A capotagem do prólogo acabou ajudando a me dar uma freada, eu estava muito na pressão de andar na frente e passei vir a dosando o ritmo, a forçar quando necessário e vim crescendo ao longo da prova. Nosso equipamento estava muito bom. Teria sido ainda mais difícil se o duelo com o Rodrigo (Varela) seguisse até o fim. É muito bom ganhar pelo segundo ano”, disse Deninho Casarini.
Emoção também entre os carros, com uma virada na última etapa no duelo entre os irmãos Baumgart, com as Toyota da equipe X Rally. Cristian, ao lado de Beco Andreotti, atacou na oitava especial e já havia descontado boa parte da desvantagem quando Marcos e Kleber Cincea perderam tempo com problemas na transmissão. Um tetracampeonato suado e, por isso mesmo, bastante comemorado.
“Ataquei feito um louco no último dia, não queria ser vice mais uma vez. Esse título estava engasgado, eu precisava muito dele. O Marcos também fez uma prova sensacional, nenhum de nós aliviou um instante que fosse e todos os fatores foram positivos para o meu lado, inclusive a sorte. O Sertões foi de altíssimo nível, complexo, pesadíssimo, saio mais do que satisfeito com o que o rally proporcionou este ano”, disse Cristian Baumgart.
Ainda com as lembranças, as belas imagens e os registros de uma edição histórica, o Sertões se volta agora para 2022. No bicentenário da Independência e nos 30 anos de prova, vai ligar o Oiapoque ao Chuí, num desafio inédito.
SERTÕES 2021
CLASSIFICAÇÃO FINAL
MOTOS
1) #4 Adrien Metge, (1)MT1, Yamaha WR450F, 30h06min12
2) #3 Jean Azevedo, (2)MT1, Honda CRF450RX, 30h22min40
3) #6 Bissinho Zavatti, (1)MT2, Honda CRF450RX, 30h40min06
4) #5 Túlio Malta, (2)MT2, Yamaha WR450F, 30h55min55
5) #7 Gregório Caselani, (3)MT2, Honda CRF450RX, 28h09min28
QUADS
1) #107 Manuel Andujar, Yamaha Raptor 700, 29h46min16
2) #101 Rafal Sonik, Yamaha Raptor, 31h54min42
3) #100 Marcelo Medeiros, Yamaha YFM700R, 37h03min53
UTV
1) #201 Denísio Casarini/Ivo Meyer, (1)UT1, Can-Am Maverick X3, 30h36min29
2) #250 André Hort/Matheus Mazzei, (2)UT1, Can-Am Maverick X3, 30h52min40
3) #202 Rodrigo Luppi/Maykel Justo, (3)UT1, Can-Am Maverick X3, 30h55min15
4) #267 João Monteiro/Victor Melo, (4)UT1, Can-Am Maverick X3, 30h58min51
5) #211 Gabriel Cestari/Jhonatan Ardigo, (1)UT2, Can-Am Maverick X3, 31h11min13
CARROS
1) #302 Cristian Baumgart/Beco Andreotti, (1)T1 FIA, Toyota Hilux IMA 2021, 28h55min21
2) #301 Marcos Baumgart/Kleber Cincea, (2)T1FIA, Toyota Hilux IMA 2021, 29h03min39
3) #315 Sylvio de Barros/Rafael Capoani, (3)T1 FIA, Toyota Hilux IMA 2021, 29h42min46
4) #368 Julio Capua/Emerson Cavassin, (4)T1FIA, Toyota Hilux V8, 30h25min15
5) #373 Marcelo Gastaldi/Cadu Sachs, (5)T1 FIA, Buggy Century CR-6, 30h29min57
OS CAMPEÕES
UTV – Denísio Casarini/Ivo Meyer
O paulistano Deninho, 40 anos, é filho de Denísio Casarini, lenda da motovelocidade. Foi duas vezes campeão mundial de Jet-Ski, compete também em provas de endurance e carros clássicos nos autódromos. Ivo Mayer, 51 anos, é catarinense de Brusque e começou no enduro de regularidade (Motos). Disputou o Sertões pela primeira vez nas duas rodas, antes de se tornar navegador.
Motos – Adrien Metge
Natural de Ganges, Sul da França, 35 anos, começou nas provas de Enduro (FIM) e chegou ao Brasil em 2014 para disputar a modalidade. Estreou no Sertões em 2015 e retornou este ano para se tornar o quinto estrangeiro a conquistar a prova – Heinz Kinigadner, Marc Coma, Cyril Despres e Paulo Gonçalves. Muito querido pelos brasileiros, ganhou deles o apelido de Croissant.
Quadriciclos – Manuel Andujar (Argentina)
25 anos, natural de Lobos (província de Buenos Aires), atual campeão do Dakar e torcedor fanático do Boca Juniors. Disputa o Mundial de Rally Cross-Country FIM
Carros – Cristian Baumgart/Beco Andreotti
Paulista, 46 anos, Cristian chegou à quarta vitória no Sertões. Também é tricampeão da Mitsubishi Cup, vice-campeão brasileiro de Rally Cross-Country e tem uma participação no Dakar, com um UTV. Todos os resultados conquistados ao lado do navegador Beco, 45 anos.
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