Um traçado longo, de mais de 13 quilômetros de extensão, sete tipos de asfalto pelas estradas interioranas do distrito de La Sarthe, uma instabilidade climática de dar inveja ao circuito de Interlagos, média horária superior aos 240 km/h por volta, 56 carros de quatro categorias, recorde de intervenções do carro de segurança em uma corrida de 24 horas de duração. Ingredientes que, somados à superação, alegrias e tristezas fazem das 24 Horas de Le Mans a mais espetacular corrida de longa duração do mundo.
Cercada de histórias e conhecida por fabricar verdadeiras lendas do automobilismo mundial, a prova, que aconteceu no último dia 22 de junho, teve a estreia do brasileiro Lucas di Grassi. O piloto, contratado pela Audi – vencedora de 12 das últimas 15 edições das 24 Horas -, fez sua primeira aparição em Le Mans e correu ao lado do espanhol Marc Gené e do britânico Oliver Jarvis.
E a exemplo das outras corridas que disputou pela equipe das quatro argolas, Lucas mais uma vez terminou no pódio. O terceiro lugar foi a coroação do melhor estreante da 81ª edição das 24 Horas de Le Mans. A vitória ficou com sua equipe, no carro de número 2, pilotado pelo escocês Allan McNish, pelo francês Loic Duval e pelo dinamarquês Tom Kristensen, que ampliou seu recorde, com nove triunfos em La Sarthe.
Antes da largada, Lucas também havia sido premiado com o troféu destinado ao estreante dono da melhor volta na pista durante os treinos. Entretanto, as coisas não foram fáceis para o trio do carro número 3 durante a prova. Cada vez mais ganhando confiança dentro do time, coube a Di Grassi guiar o Audi R18 e-tron quattro na largada. E esta foi a parte mais difícil da prova, na opinião do brasileiro. “Sem dúvida a largada foi a parte mais difícil para mim, porque além da pressão de ser a minha primeira corrida em Le Mans, houve o acidente que tirou a vida do Allan Simonsen, uma entrada do safety car na pista que durou praticamente uma hora, e também a questão da chuva em trechos da pista com todo mundo usando pneu de pista seca”, lembrou o piloto de 28 anos.
Sobre o acidente fatal com o dinamarquês do Aston Martin #95, Lucas disse ter recebido a notícia assim que deixou o carro após seu primeiro turno. “Recebi a notícia direto do meu chefe Dr. Ullrich. Ele me disse assim que saí do carro e fiquei absolutamente chocado com essa fatalidade”, contou.
Houve mais momentos difíceis na prova para o Audi #3, como o furo no pneu traseiro direito logo que caía a noite no circuito. Oliver Jarvis acabava de passar pela linha de chegada. “Ele teve que completar uma volta inteira, mais de 13 quilômetros, em três rodas. Isso nos fez perder muito tempo”, apontou o brasileiro. Jarvis conseguiu trazer o carro em boas condições aos boxes e voltou na quarta posição, atrás dos R18 de McNish e dos Toyotas de Sebastien Buemi e Kazuki Nakajima.
Durante a madrugada, Lucas novamente assumiu o cockpit do e-tron e iniciou uma perseguição que manteve grande parte das 245 mil pessoas presentes ao autódromo acordadas. “Depois de ter perdido muito tempo por ter dado uma volta completa com três rodas, precisamos tirar mais de uma volta de diferença para os Toyotas. No meu turno de madrugada eu consegui tirar mais de um minuto do (Kazuki) Nakajima, e isso me deixou extremamente satisfeito”, afirmou.
No fim, o trio recuperou a terceira colocação e assim Lucas subiu ao pódio de Le Mans em sua primeira participação na corrida, igualando os feitos de Raul Boesel (1991) e Ricardo Zonta (2008) no geral da prova.
O desempenho na parte inicial da prova e a caçada noite adentro contra o Toyota que estava um minuto e meio à frente renderam elogios de dentro da equipe. Vencedor e recordista de triunfos na prova, o dinamarquês Tom Kristensen dividiu o carro com Lucas em duas ocasiões, nas 6 Horas de São Paulo do ano passado, na estreia do brasileiro no time, e nas 12 Horas de Sebring, em março deste ano. “O que o Lucas fez foi fantástico. Estamos muito orgulhosos do que ele fez aqui em Le Mans”, disse.
O diretor de esportes a motor da Audi, Dr. Wolfgang Ullrich, também fez questão de ressaltar o bom trabalho desempenhado por seu piloto estreante. “Foi a primeira vez de Lucas em Le Mans e acho que depois de suas primeiras voltas ele ficou bastante impressionado com essa pista, que é muito especial. Ele mostrou durante os testes e os treinos antes da prova que ele se adaptou muito rápido a este traçado único. Ele foi constantemente rápido e fez um excelente trabalho na corrida sem ter cometido um único erro. Foi realmente um início perfeito para ele, sobretudo por estar aqui pela primeira vez”, afirmou.
Dormir? “Já haviam me dito que na primeira vez em Le Mans o piloto estreante não consegue dormir. Com a experiência isso vai melhorando. O fato é que eu dormi mais ou menos uma hora durante a corrida inteira. Tanto que eu estava exausto depois da prova e quase dormi na coletiva de imprensa!”, concluiu Lucas.
Por Inova Comunicação – Rafael Durante