Indignada com a situação que definirá o futuro do Autódromo Nelson Piquet e o oval Emerson Fittipaldi, ambos compondo o único autódromo do Estado do Rio de Janeiro, a ABPE – Associação Brasileira de Pilotos e Equipes da Stock Car, mais profissional e antiga categoria do automobilismo brasileiro, dá total e irrestrito apoio à Confederação Brasileira de Automobilismo, na luta pela manutenção de um dos mais belos e técnicos traçados dos autódromos de todo o mundo. Localizado na Barra da Tijuca, bairro que experimentou um dos maiores crescimentos urbanos de todo o mundo nos últimos dez anos, a área onde está instalado o Autódromo passou a ser de interesse da especulação imobiliária. Com a escolha do Rio de Janeiro como sede dos jogos pan-americanos de 2007, a Prefeitura do Rio de Janeiro editou a resolução 193/2002, cujo teor indica que “no complexo Esportivo do Autódromo serão construídas três instalações para os jogos Pan-Americanos Rio 2007: a arena multiuso, o parque aquático e o velódromo”. A Resolução explica que a concessão será feita através de licitação internacional, outorgando ao vencedor, o direito real de uso do autódromo por 50 anos, prorrogáveis por mais 50.
Atenta aos acontecimentos e procurando preservar a praça esportiva, a CBA, Confederação Brasileira de Automobilismo está mobilizada e acompanhando passo a passo o processo que na prática desfigurará um dos melhores traçados do mundo e, de acordo com o “croquis” apresentado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, inviabilizará o autódromo para corridas internacionais, contrariando promessa da Prefeitura feita logo após a escolha da Cidade como sede do Pan 2007, quando garantia que “a pista seria preservada, garantindo a capacidade do Rio em sediar eventos nacionais e internacionais de automobilismo”. O Presidente da CBA, Dr. Paulo Scaglione, após manifestar formalmente ao Presidente do COB, Carlos Nuzman, a preocupação da CBA quanto à utilização do uso do Autódromo para fins que não o do esporte a motor, recebeu como resposta do dirigente olímpico que a escolha do Autódromo como um dos locais do Pan, havia sido feita pela Prefeitura e que o COB não interferiria no caso.
A Postura da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro tem sido ambígua. O mesmo órgão vetou a disputa de provas de Fórmula Truck naquele circuito, justificando a instabilidade do solo, argumento que conta com o respaldo do engenheiro Ayrton Lolô Cornelsen. Cornelsen trabalhou na primeira fase da construção do Autódromo de Jacarepaguá, ainda nos anos 60: “O terreno é de solo saturado. Antes da construção do Autódromo era composto de turfa (terra podre e sem resistência)”, informou. Agora, a mesma Prefeitura quer erguer estádios, conjuntos aquáticos e um hotel com 22 andares. É no mínimo estranho.
Não é apenas a comunidade do automobilismo que se sente indignada com o tratamento dado ao caso. Até o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) do Rio de Janeiro, através de seu presidente, Engenheiro Reynaldo Barros e do geólogo André Calixto, ex-conselheiro da entidade, concordam com a falta de critérios, transparência e planejamento da obra: “A população vai pagar o preço. A obra será mais cara do que o previsto. A região é de turfa. Vão gastar mais nas fundações dos edifícios”, disse Barros, explicando que só se pode fazer obras ali com a colocação de estacas verticais de concreto, até que se encontre terra firme. “Quando se fixa uma estaca (num terreno bom), ela fica firme. Nesse terreno, primeiro, tem de se retirar a turfa. Mas não sabemos se na construção do autódromo a turfa foi retirada e o solo melhorou. O Autódromo vai morrer” concluiu.
Já o presidente da ABPE, Fernando Parra, se coloca frontalmente contra o projeto: “É um absurdo que as coisas caminhem desta forma, destruindo-se uma coisa pronta para construir outra. O Autódromo do Rio é um dos melhores do mundo, tendo recebido sempre altos elogios de todas as categorias que lá competiram como Fórmula 1, Fórmula Indy (Cart) e Mundial de Motociclismo. O traçado é excelente e a visão para o público é total. O Automobilismo, como a própria Prefeitura do Rio de Janeiro já admitiu, traz um importante incremento ao turismo no Rio de Janeiro, cidade que tem uma grande vocação a esta atividade.
A ABPE enaltece e elogia as corretas ações tomadas pela CBA e apóia a entidade integralmente. O Presidente Paulo Scaglione pode contar com a Associação dos Pilotos e Equipes da Stock Car, que reconhece todo esforço da CBA feito em prol do esporte”, concluiu Parra.
A licitação para exploração da área foi vencida pelo consórcio Rio Sport Plaza, formado pelas empresas Construtora Norberto Odebrecht S.A., Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A, Logos Engenharia S.A. e Rio Sport Plaza Gerenciamento, que venceu a licitação como candidato único.
“Cabe a nós, esportistas, nos mobilizarmos em torno desta causa e fazermos de tudo que estiver ao alcance para que o Autódromo do Rio não desapareça ou seja desfigurado. Tenho certeza que deve haver espaço para a construção do velódromo, piscinas e arena ali mesmo na Barra da Tijuca, sem prejuízo de um bem do povo carioca e brasileiro, que já está pronto”, finalizou Parra.