Um Stock Car muito diferente 25 anos depois

Quando o primeiro motor de um Stock Car roncou no então distante Autódromo de Tarumã, nenhum dos dez pilotos poderia imaginar que um dia a categoria que naquele 22 de abril de 1979 dava seus primeiros passos no Rio Grande do Sul chegaria aonde chegou. Hoje (quarta-feira, dia 22 de abril), exatos 25 anos depois, somente um que esteve na histórica corrida de abertura da Stock Car continua na mais disputada e badalada categoria do automobilismo brasileiro. Raul Boesel começou na Stock Car, venceu três corridas em 1979 e depois iniciou carreira internacional que tem como ponto mais alto a conquista do Mundial de Marcas em 1987. Desde 2001 está de volta às origens.

”Ainda me lembro dos Opalas 250S de seis cilindros. A gente comprava pneus novos modelo 136 e raspava toda a banda de rodagem para ficar com cerca de dois milímetros de borracha. Dava dó pegar um pneu novo e lixar inteirinho, mas era a única maneira de conseguir aderência. Eu estava ali ao lado de ídolos como o Paulão, o Zeca e o Afonso Giaffone, e logo depois veio o Ingo, ex-Fórmula-1”, relembrou Boesel, de 46 anos e que na época tinha 21 anos.

O vencedor da corrida número 1 do Campeonato Brasileiro de Stock Car foi Affonso Giaffone. Affonsão ganhou as três primeiras e depois venceu mais uma na temporada de abertura, mas não levou o título, que ficou com Paulão Gomes. Afonso, irmão de Zeca Giaffone, se recorda com saudade daqueles tempos. Um quarto de século depois, Affonso, campeão da Stock Car em 1981, tem sua própria equipe (Giaffone Motorsports) e se mantém ligado ao mundo da Stock Car.

“Naquela época era quase amador se comparado ao alto grau de profissionalismo existente hoje. No Brasil nenhuma categoria teve e dificilmente terá a longevidade da Stock Car. Estou muito feliz por continuar ao lado de amigos nas pistas, mas do lado de fora”, disse o piloto de 61 anos.

Ingo Hoffmann chegou na Stock Car na segunda etapa da temporada de abertura e participou de 273 das 274 corridas da história. Vinte e cinco anos depois, Ingo festeja inéditos 12 títulos e 73 vitórias, impressionantes marcas e que dificilmente serão alcançadas ou superadas. Não foi somente com conquistas e vitórias que Ingo marcou presença na categoria. Além dos títulos ele tem outro grande orgulho.

“Nas palestras que dou para o pessoal da Filipaper digo a eles que quando voltei ao automobilismo brasileiro nunca imaginei que a Stock Car chegaria aonde chegou. Também tenho orgulho de ter participado da mudança de rumo da categoria quando eu, o Paulão e o Carlos Col (promotor e organizador) demos início ao que a Stock Car é hoje”, disse Ingo, que na segunda prova, em Guaporé, se recorda de ter de deitar no chão de terra do box para trocar o amortecedor do carro. Isso depois de passar pela Fórmula-1.

A exemplo do irmão Affonso, Zeca Giaffone também marcou sua passagem pela Stock Car e hoje também se mantém ligado à categoria. A ZF, empresa de sua propriedade, é a responsável pela fabricação das gaiolas que equipam os carros da Stock Car V8 e da V8 Light e pela manutenção dos motores de ambas as categorias.

“Naquela época o Opala era um carrão. O motor tinha cerca de 280 cavalos e girava em torno de 5.500 rpm. A gente chegava nos autódromos na terça-feira, treinava até sexta-feira e o motor agüentava bem. Nunca imaginei que estaria fazendo o que faço hoje, pois o Affonso é que gostava desse lado. Eu só queria correr. Para chegar até aqui muita gente trabalhou e o Carlos Col deu o empurrão que faltava. Tenho saudade daquela época, mas perdi a vontade de guiar”, disse Zeca.

Se Zeca Giaffone se contenta somente em trabalhar para a Stock Car, Paulão Gomes, outro dos remanescentes da prova inaugural que continua ligado à categoria, se diz feliz por poder ver o filho Pedro Gomes, na Stock Car V8. Ele continua a disputar o Campeonato Brasileiro de Endurance. Sempre brincalhão, Paulão fala de 25 anos atrás com bom humor.

“Na primeira prova o Affonso ganhou e eu fiquei em segundo ou terceiro (na verdade ficou em oitavo lugar). Ele venceu porque tinha um grande carro não é que ele era bom não (risos). Na primeira que aconteceu em Interlagos eu venci. Tenho orgulho de ter estado no início e de ter participado da virada da categoria ao lado do Col e do Ingo. Quer coisa melhor do que ser companheiro do filho a vida inteira? Eu estou ao lado do Pedro e isso é muito bom”, disse Paulão.

Resultado da primeira corrida da história da Stock Car V8:

Tarumã, 22 de abril de 1979

1) carro número 26 – Affonso Giaffone

2) carro número 48 – João Carlos Palhares

3) carro número 81 – Raul Boesel

4) carro número 98 – Mauro Sá Motta

5) carro número 3 – Alencar Júnior

6) carro número 17 – Júlio Tedesco

7) carro número 31 – Zeca Giaffone

8) carro número 22 – Paulo Gomes

9) carro número 5 – Dado Andrade

10) carro número 30 – Reinaldo Campelo

Resultado da 274ª corrida da história da Stock Car V8:

Interlagos, 18 de abril de 2004

1)carro número 9 – Giuliano Losacco – SP – (Itupetro-RC)

2) carro número 21 – Thiago Camilo SP -(Golden Cross-Vogel)

3) carro número 0 – Cacá Bueno SP – (Petrobras-Action Power)

4) carro número – 15 – Antonio Jorge Neto SP – (Medley-A.Mattheis)

5) carro número 11 – Nonô Figueiredo SP – (Avallone Motorsport)

6) carro número 36 – Raul Boesel PR – (Repsol-Boettger)

7) carro número 20 – André Bragantini SP – (Golden Cross-Vogel)

8) carro número 43 – Pedro Gomes SP – (Giaffone Motorsport)

9) carro número 8 – Carlos Alves SP – (Philips Motorsport)

10) carro número 27 – Guto Negrão SP – (Medley-A.Mattheis)

Nokia apresenta a Stock Car Brasil, que tem promoção e

organização da Vicar Promoções, com supervisão da Confederação Brasileira de Automobilismo. Os patrocínios são de Chevrolet e Pirelli e co-patrocínios de Repsol, Medley e Texaco. Apoios de Cobreq, Fremax e Binno.