A passagem do 25º aniversário do Campeonato Brasileiro de Stock Car, na última quinta-feira, representou o Jubileu de Prata do maior sucesso da história do automobilismo brasileiro. Desde a prova que deu origem à competição, em 22 de abril de 1979 no Autódromo Internacional de Tarumã, na Grande Porto Alegre, uma infinidade de competidores dos quatro cantos do País tomaram parte do grid nas várias fases que a Stock experimentou.
Numa categoria vista como dividida entre dinossauros e babyssauros, uma alusão que leva em conta a notável experiência de grande parte dos pilotos e a juventude de outros tantos, Ingo Hoffmann pode ser considerado uma espécie de dinossauro rex, ou o rei dos dinossauros. E o piloto paulista faz por merecer tal coroa. Aos 51 anos e credenciado por um currículo invejável, participa em 2004 da 26ª temporada brasileira da Stock Car.
Ingo, sozinho, conquistou 12 dos 25 títulos já disputados na categoria. Ele detém exatos 92,3% da soma dos títulos ganhos por todos os outros pilotos que competiram na categoria ao longo de seus 25 anos de história. “A categoria vive um momento extremamente positivo, é super gratificante ser parte desse sucesso. Esses anos todos mostraram com sobras o quanto valeu a pena entrar para a categoria. Hoje, a Stock Car é a minha vida”, declara.
O piloto lembra a fase delicada que a categoria enfrentou na década passada. “O Carlos Col, o Paulão (Gomes) e eu formamos um grupo de trabalho e criamos uma associação de pilotos. Queriam que eu fosse presidente. Eu aceitei, desde que o Col estivesse à frente. E aquele trabalho que nós começamos não sei quantos anos atrás levou a Stock ao que ela é hoje. O mérito maior é do Col, sem dúvida nenhuma”, atribui, citando o atual promotor do campeonato.
Segundo Ingo, a transmissão das corridas ao vivo pela Rede Globo e pela SporTV, a ampla cobertura que dos vários segmentos da mídia e a presença de grandes empresas, como proprietárias e gerenciadoras de equipes ou como patrocinadoras, conferem ares de grandeza à Stock Car. “A comparação da Stock de hoje com a de vinte e poucos anos atrás seria igual à da Fórmula 1 de hoje com a daquela época. Uma evolução notável”, analisa.
O COMEÇO
Quem analisa o currículo de Ingo Hoffmann pode não fazer idéia de como foi difícil sua estréia na Stock Car. Em 1979, quando retornou da Europa depois de atuar em várias categorias por três anos – inclusive com participações na Fórmula 1 -, viu-se às voltas com um carro pouco competitivo, com que faria sua primeira participação na categoria, então uma novidade do automobilismo brasileiro, na pista de Guaporé, também no rio Grande do Sul.
Para se ter uma idéia, Ingo conseguia, nos treinos, tempos cerca de um segundo e meio por volta mais lentos que os do penúltimo colocado. “Aquele carro não era nenhuma maravilha, é verdade, mas eu também não consegui me acertar lá dentro”, lembra. Durante a corrida, para não tomar volta dos líderes, decidiu abandonar. “Eu lembro que saí resmungando por causa de um tal de problema mecânico, mas o carro não tinha nada”, diverte-se.
A prova em Guaporé foi disputada no dia 29 de abril, uma semana depois da estréia da categoria. “Eu tinha acabado de chegar da Europa e eram duas as opções para correr no Brasil, a Stock Car e a Super Vê. De última hora, o Paulo Renato Morais Pinho, da McCann Erickson (agência de publicidade que até os dias de hoje atende a General Motors), que era um grande amigo meu, conseguiu um patrocínio da GM para me levar para a Stock”, detalha.
Apesar de todos os contratempos enfrentados em Guaporé, Ingo manteve sua aposta na categoria, que surgia à luz do sucesso que o modelo Opala fazia na época. “Minha intenção era me profissionalizar no automobilismo depois de alguns anos correndo na Europa. Hoje, vejo que fiz uma escolha absolutamente correta. A categoria teve momentos muito bons e também tempos de vacas magras. E eu dei minha contribuição para isso, também”, cita, orgulhoso.