Quando algumas pessoas dizem que a Stock Car é uma família estão certas. Como uma família normal, dentro da mais tradicional categoria do automobilismo brasileiro existem intrigas, desentendimentos, discussões, amizades novas, amizades antigas e parentes, muitos parentes. A presença de pais, filhos, irmãos, tios, sobrinhos na Stock Car chega a lembrar um antigo anúncio publicitário que dizia em sua embalagem: de pai para filho desde 1910. A Stock não é tão antiga assim, mas desde 1979, quando começou a ser disputada, já teve, e continua a ter, parentes correndo e brigando por posições na mesma pista.
Na temporada de 2003 estiveram na mesma prova o tetracampeão Paulão Gomes e seu filho Pedro Gomes. André Giaffone, filho de Afonso Giaffone, que em 1981 conquistou o título da categoria. Outro membro do clã Giaffone que também esteve nos cockpits e hoje está nos bastidores da Stock é Zeca Giaffone, campeão em 1987. Thiago Camilo, cujo pai, Bel Camilo já guiou um Stock Car, teve o tio, Sérgio Ruas Camilo, disputando a Stock Car Light. Hoje, Ruas pilota o safety car por todo o Brasil.
“Ter o pai ao lado tem o lado bom e o ruim. Apesar de também ser piloto, meu pai não interfere, mas já vi muitos atrapalhando a vida dos filhos. Tem de ter o equilíbrio entre o lado pai e o lado torcedor”, diz Thiago Camilo, de 19 anos, que ocupa o sexto lugar na classificação geral com 33 pontos.
A família Marques também esteve representada. Depois de o chefe da Petrobrás-Action Power, Paulo de Tarso, ter disputado a Stock, em 2002 seu filho Thiago Marques fez a primeira temporada na V8 e tem obtido bons resultados neste ano como o quarto lugar em Londrina, quando brigou por um lugar no pódio com Guto Negrão até a linha de chegada. Paulo de Tarso também é pai de Tarso Marques, piloto com passagens por várias categorias internacionais como a Fórmula-1.
“No final de semana de corrida ele deixa de ser pai e vira chefe de equipe, mas tem horas em que não agüenta e, apesar de não mexer no meu carro, na hora da corrida não agüenta e fala no rádio. Pesando na balança as vantagens e desvantagens, eu gosto. Uma vez reclamei do carro e ele disse que se não estivesse contente poderia procurar outra equipe. É complicado reclamar, pois temos muita intimidade”, disse Thiago, de 24 anos.
O clã Bragantini foi outro a marcar presença em dose dupla em 2003. André, que durante boa parte da temporada correu na Stock V8 e seu tio, Artur Bragantini, considerado um dos maiores nomes do automobilismo nacional, participou de algumas provas da Stock V8 Light. Neste ano somente André Bragantini continua na principal categoria do automobilismo brasileiro.
“Acho muito positivo essa noção de família que a Stock passa. Na minha opinião, num mundo estressante e competitivo como o do automobilismo, ter amigos e familiares ao lado ajuda, pois a gente tem com quem compartilhar as dificuldades. Aprendi muito com meu tio, que é experiente demais e já me ajudou em outras categorias. O gozado é que eu mesmo acabei dando conselhos a ele no ano passado”, disse André Bragantini.
Terceiro colocado na classificação geral da V8, Guto Negrão teve o irmão, Xandy Negrão, um dos grandes nomes da Stock Car, como adversário em algumas provas de 2003. Neste ano está sozinho, mas nem tanto.
“Minha equipe é mesmo uma família, pois eu o Antonio Jorge Neto, o Andréas Mattheis e os mecânicos saímos para almoçar, estamos juntos. Essa boa convivência ajuda a diminuir a falta da família de verdade. Meu filho corre de kart e eu procuro nem ficar perto, pois querendo ou não um pai que correu ou ainda corre faz pressão no garoto. Era esquisito correr contra o Xandy, pois a preocupação com o irmão era maior do que com os outros pilotos”, disse Guto.
Outros irmãos presentes na Stock Car são Neto de Nigris (V8) e Leo de Nigris (V8 Light).
“É muito gostoso estar ao lado do meu irmão. Nós nos divertimos e nossa maior preocupação na pista é arrumar dinheiro para correr. Eventualmente quando ele demora um pouquinho mais para passar fico tenso, mas logo ele aparece. Além de nos divertir, também aproveitamos o final de semana para jantar juntos, o que normalmente não acontece em São Paulo”, disse Neto de Nigris (Scuderia 111).
Mas os irmãos mais conhecidos são mesmo Cacá e Popó Bueno. Filhos do narrador Galvão Bueno, que transmite pela Rede Globo boa parte das corridas, Cacá foi vice-campeão da Stock Car V8 e Popó faz sua segunda temporada na categoria. Giuliano Losacco, o melhor estreante em 2003 e líder da Stock V8, tinha o tio, Luiz Paternostro, como companheiro de equipe. Agora corre ao lado de Ricardo Etchenique.
“O Popó já foi campeão brasileiro, já andou na Europa e sei bem do seu potencial. Depois do primeiro ano de adaptação, ele já está frequentando as primeiras posições e dando bastante trabalho. Já sobre meu pai, posso dizer que ele deve se emocionar narrando os dois filhos na pista. Mas para mim pouco influencia, porque quando coloco o capacete e sento no cockpit não posso ouvir a sua narração. O que vale mais para mim é a presença dele no autódromo como meu pai, me dando força”, disse Cacá.
O narrador Galvão Bueno, que mesmo quando está de folga comparece aos autódromos para acompanhar a Stock Car, fala sobre os filhos na categoria e em reunir a família nos autódromos.
“Narrar meus filhos na principal categoria do país para milhões de espectadores é uma grande emoção, sem dúvida, mas não deixo que isso influencie no meu trabalho. O profissionalismo é o mesmo das transmissões de futebol, F-1 ou de qualquer outro esporte. O que mais me orgulha, na realidade, é vê-los como pilotos profissionais, fazendo o que gostam e com relativo sucesso. O automobilismo faz parte do dia-a-dia da nossa família, tanto que minha filha Letícia e meu genro Graminho estão envolvidos também na Stock Car, como empresários do Cacá e do Popó”.
Luis Carreira Jr., o Carreirinha, campeão da Stock Car Light, tem uma grande família envolvida em automobilismo de competição, mas, curiosamente, até a temporada passada nenhum estava ligado à Stock Car. Neste ano chegaram os primos Fábio e André Carreira. Luis Carreira, pai do campeão de 2003 da Stock Car Light, é dono da Equipe Carreira Motorsports que terá como piloto Vicente Siciliano, casado com Juliana Carreira. Siciliano é genro de Carreira e cunhado de Carreirinha.
“As corridas da Stock viraram minha casa, pois no box do lado está meu pai, meu cunhado e no outro dois primos do outro lado. É muito legal ter a família sempre perto. Meu pai ajuda muito, dá dicas, mesmo sendo de outra categoria (Stock Car V8 Light), enfim, ele também trabalha para mim. Tem pai que atrapalha. O meu não, pois preciso muito dele”, disse Carreirinha, piloto da Philips Motorsport.
Duda Pamplona além de ter o pai, Carlos Pamplona, como companheiro o tem também como sócio da Pamplona’s Motorsport. Os dois podem ser vistos juntos em todas as corridas da temporada. Na próxima, no Rio, Duda terá o acréscimo de vários outros familiares, pois é a cidade onde ele mora. Outra dupla formada por pai e filho está na ZF, empresa que fabrica as gaiolas dos carros e também é responsável pelos motores da Stock car V8 e da V8 Light. Zeca Giaffone, campeão da categoria em 1987, e Zequinha Giaffone trabalham juntos em todas as provas do ano.
Já o vice-campeão da Light, Wellington Justino, teve os tios Ananias Justino e o falecido Laércio Justino dentro de cockpits da Stock. Ainda na Stock Car Light pai e filho correram no mesmo carro em 2003. O veterano Oscar Chanoski e Alan Chanoski dividiram o cockpit em 2003. Oscar é um dos dirigentes da Petrobrás-Action Power e Alan participa da V8 Light. Os estreantes irmãos Arthur e Andréas Lundgren dividem o mesmo carro na Stock Car V8 Light.
Nokia apresenta a Stock Car Brasil, que tem promoção e organização da Vicar Promoções, com supervisão da Confederação Brasileira de Automobilismo. Os patrocínios são de Chevrolet e Pirelli e co-patrocínios de Repsol, Medley e Texaco. Apoios de Cobreq, Fremax e Binno.