Técnica e habilidade: pilotos da Stock Car enfrentam a “Eau Rouge brasileira”

A Stock Car Pro Series acelera neste domingo (26) para a disputa da 11ª e penúltima etapa da temporada 2023. O palco é Cascavel (PR), em um dos mais emblemáticos e tradicionais cenários do automobilismo brasileiro, o Autódromo Internacional Zilmar Beux. E, no circuito de 3.058 metros, há a icônica Curva do Bacião, desafiadora por conta das suas características únicas: trecho de alta velocidade e raio longo, com início do percurso em descida e término em subida, onde as velocidades ultrapassam com folga os 200 km/h. Para muitos, ela é comparável com a mundialmente conhecida Eau Rouge, em Spa-Francorchamps (Bélgica), considerada a curva mais radical da Fórmula 1.

Na visão de Felipe Fraga, vice-líder da temporada 2023 da Stock Car com a Blau Motorsport e vencedor no circuito há quatro anos, a curva cascavelense inclusive supera sua coirmã europeia, onde o piloto também tem muita experiência e andou pela última vez em julho deste ano de Mercedes AMG GT3 da equipe Riley, do Mundial de Endurance. “Pra te falar a verdade, acho a Curva do Bacião bem mais legal que a Eau Rouge. Quando comecei a andar lá, os carros faziam aquela curva de pé cravado, no limite. Era bem legal. Agora, quando você anda de LMP3, LMP2 ou GT3, os carros a percorrem muito fácil”, salientou.

“Spa é muito legal por conta da sua história, é muito linda. Mas aqui no Bacião é totalmente diferente. Cada volta é uma volta e, mesmo sem aquela referência, é uma curva muito rápida. Nosso carro não tem tanta pressão aerodinâmica, então você acelera várias vezes dentro dela. Nossa velocidade mínima lá é de 190 km/h. É fantástica, incrível. Para mim, é a pista mais legal do Brasil”, destacou.

Sem comparações — Felipe Massa é um dos pilotos em ação no fim de semana da Stock Car em Cascavel que mais conhece Spa-Francorchamps e, por consequência, a Eau Rouge. Foi lá que o hoje piloto da Lubrax Podium Stock Car Team faturou sua décima e penúltima vitória na Fórmula 1, correndo pela Ferrari, em 2008.

Na visão do paulista de 42 anos, apesar de características parecidas, não há espaço para comparações. “São duas curvas muito bacanas, desafiadoras, rápidas. Você precisa ter um carro muito bom para fazer as duas bem e rapidamente. Cascavel é uma pista que gosto muito, talvez um dos traçados mais legais que tem no Brasil. Não só o Bacião, mas curvas com inclinação, onde também é divertido de fazer”.

“Mas logicamente Spa é a pista preferida de quase todos os pilotos da história da Fórmula 1. Eu ainda vivi dois tipos de Spa-Francorchamps: onde a Eau Rouge era uma curva muito difícil de fazer de pé embaixo. E também vivi uma situação onde os carros melhoraram muito e praticamente toda a curva era de pé cravado. Mas acho que não tem como fazer uma comparação”, explicou Felipe.

Campeão da Indy em 2004 e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis nove anos depois, Tony Kanaan também já percorreu a famosa curva Eau Rouge. A última vez a andar no circuito belga foi em 2018, com Ford GT da equipe Ganassi no Mundial de Endurance. O baiano, que corre pela Texaco Racing Full Time Bassani na Stock Car, prefere não comparar, mas também exaltou o Bacião.

“É difícil comparar curvas. Mas acho que, no Brasil, não tem uma curva mais desafiadora que essa do Bacião. É uma curva meio “cega”, que não permite que você veja o final dela: quando você chega para frear, nunca se sabe se está freando no ponto certo, precisa carregar muita velocidade até o meio dela, porque é um trecho muito longo. E você tem de acreditar que o carro vai conseguir contornar a segunda parte da curva sem rodar. Então não tem uma volta que se passe ali e seja possível ficar confortável. É uma curva bem atípica, mas também uma das mais divertidas de se fazer. É uma curva que você nunca consegue dominar. Vão passar mais 20 anos com a gente correndo aqui, e a sensação vai ser a mesma”, detalhou.

“Tecnicamente complexa” — Engenheiro e chefe da RCM Motorsport, Marcel Campos dissecou aquele que é um dos locais preferidos de boa parte dos pilotos do automobilismo brasileiro. “Trata-se de uma curva muito rápida, em descida, com muita inclinação, de modo que a força G lateral do carro acaba sendo muito grande, o estresse no pneu e a sobrecarga nos pneus externos são muito elevados. É um trecho percorrido a mais ou menos uns 210 km/h. A entrada dela é em descida, depois da reta dos boxes, e a saída é percorrida em subida. A velocidade é mantida em praticamente todo o percurso, mas tudo também depende da pilotagem em relação à saída. São muitos posicionamentos e jeitos diferentes de fazer essa curva. Tecnicamente, é um trecho complexo. Justamente por esse mix de características, é um dos lugares mais legais que temos aqui em Cascavel e no automobilismo brasileiro”.

Um dos pilotos mais jovens do grid da Stock Car, Gianluca Petecof, de 21 anos, tem experiência no automobilismo europeu, em categorias como a Fórmula 4 Italiana, Fórmula Regional Europeia (onde foi campeão em 2020) e também na Fórmula 2, mas ainda não teve a oportunidade de guiar em Spa-Francorchamps e conhecer a Eau Rouge. Em contrapartida, Petecof exaltou a chance de percorrer uma das curvas mais famosas do Brasil.

“Todo mundo conhece bem o Bacião. No meu caso, conheci neste ano. Sexta-feira dei uma escapada lá. Então, já fui batizado [risos]. Mas é um trecho extremamente difícil por dois motivos: primeiro que você chega nela muito rápido e a contorna muito rápido. Se não for a curva mais veloz do calendário da Stock, certamente está entre as mais velozes. E, combinado com isso, tem a questão da visibilidade. A entrada é cega e a saída também é cega. Então é difícil julgar exatamente onde você vai sair. Fico feliz por ter aqui no Brasil uma curva que testa os nossos limites mentais e físicos o tempo todo”, explicou.



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